Documentos: O colonialismo e as guerras de libertação.

A Conferência de Bandung

Estamos resolvidos a não ser dominados por nenhum país, por nenhum continente (...). Somos grandes países e queremos viver livres sem receber ordens de ninguém. Damos importância à amizade das grandes potências, mas só cooperamos com elas em pé de igualdade. É por essa razão que erguemos a nossa voz contra a hegemonia e o colonialismo, que sofremos, muitos de nós, durante longo tempo. E é por essa razão que deveremos estar vigilantes para que nenhuma outra forma de dominação nos ameace. Queremos ser amigos tanto do Ocidente, como do Oriente, como de todo o mundo. (Nerhu, Discurso de encerramento da Conferência de Bandung, 24 de Abril de 1955)

Salazar e as «províncias ultramarinas»

O ideal que inspirou os descobrimentos portugueses e, depois, a obra que se lhes seguiu foi o de espalhar a fé e comunicar aos povos os princípios da civilização. (…) Um nativo de Angola, embora com as limitações da sua incultura, sabe que é português e afirma-o tão conscientemente como um letrado de Goa saído de uma Universidade europeia. (…) O Português, por exigência do seu modo de ser, previsão política ou desígnio da Providência, experimentou juntar-se, senão fundir-se com os povos descobertos, e formar com eles elementos integrantes da mesma unidade pátria. Assim nasceu uma Nação sem dúvida estranha, complexa e dispersa pelas sete partidas do mundo; mas quando olhos que sabem ver observam atentamente essas facções de Nação, verificam (…) que ali é Portugal. (Salazar, Discurso de 30 de Maio de 1956)

A defesa do colonialismo

A África começa a agitar-se, a arder ao fogo de movimentos que, não podendo ser racionalistas e muito dificilmente ideológicos, se apresentarão como rácicos…apresentando-se, como na Ásia, a negar ao branco todo o esforço civilizador e os direitos dele decorrentes. (…) O ponto nevrálgico da política do mundo continua a situar-se na Europa: não só porque pela força e riqueza próprias tem tradicionalmente dirigido os destinos mundiais como porque nela floresceu e tem estado ameaçada a única civilização universal que a Europa e as nações americanas representam e parecem ter a obrigação de defender solidariamente. (…) Não nos temos cansado de dizer que a África é completamente natural da Europa, necessária à sua vida; à sua defesa, à sua subsistência. Sem a África, a Rússia pode desde já ditar ao Ocidente os termos em que lhe permite viver (…). Um vento de revolta sopra em várias zonas de África, eriçado por potências conhecidas (…). Esse vento parece justificar o anticolonialismo em moda… A Europa sente-se responsável, também, e por uma espécie de cobardia colectiva parece envergonhar-se da obra que ali tem realizado. (Salazar, Discursos, in OLIVEIRA, César, Salazar e o Seu Tempo, Lisboa, Edições O Jornal, 1991)

A emboscada

Os combatentes do PAIGC estavam tão próximos que os portugueses atiravam granadas defensivas à mão. Joaquim Tomás tirou seis granadas do cinturão de Benjamim e, ao arremessar uma delas, um estilhaço alojou-se no seu pulso direito. Indiferente, continuou a combater. Nessa altura já outros ocupantes da segunda viatura- entre os quais o alferes- tinham marcas de tiros de raspão e de estilhaços pelo corpo. (…) Após 40 minutos de ataque, o inimigo desapareceu completamente. (…) António Clara tinha o tronco desfeito por uma granada (…); o furriel Rui Alberto estava caído, por trás de um tronco de árvore, com um tiro na nuca; Carlos Salgado fora atingido mortalmente no seu lugar de condutor (…). Os feridos foram evacuados para Bissau e, em seguida, para Lisboa. (…) Os cadáveres, enlameados e ensanguentados, foram lavados em Ingoré, sob as ordens do furriel Fernandes, e encerrados em urnas revestidas de zinco. (Testemunho oral recolhido por Joaquim Vieira, Jornal Expresso, 21/4/1984)

Negociações ou derrota militar?

A dificuldade do problema da Guiné estava nisto: em fazer parte de um problema global mais amplo, que tinha de ser considerado e conduzido como um todo, mantendo a coerência dos princípios jurídicos e da política que se adoptasse.

E foi aqui que, no decurso da conversa, fiz a afirmação chocante para a sensibilidade do general (Spínola), dizendo mais ou menos isto:

- Para a defesa global do Ultramar é preferível sair da Guiné por uma derrota militar com honra do que por um acordo negociado com os terroristas, abrindo caminho a outras negociações.

- Pois V. EX.ª preferia uma derrota militar na Guiné?- exclamou, escandalizado, o general.

- Os exércitos fizeram-se para lutar e devem lutar para vencer, mas não é forçoso que vençam. Se o exército português for derrotado na Guiné depois de ter combatido dentro das suas possibilidades, essa derrota deixar-nos-ia intactas as possibilidades jurídico-políticas de continuar a defender o resto do Ultramar. E o dever do Governo é defender todo o Ultramar. É isso que eu quero dizer. (Marcelo Caetano, “Depoimento” (Rio de Janeiro, 1974), in MEDINA, João (dir.), História Contemporânea de Portugal, Lisboa, Edições Mutilar, 1990, p.232)

A luta pela libertação das colónias

Nós, africanos das colónias portuguesas, lutamos contra o colonialismo português, para defender os direitos do nosso povo e os verdadeiros interesses de todos os povos do mundo. Os africanos querem que Portugal respeite rigorosamente as observações definidas na Carta das Nações Unidas. Exigimos que Portugal siga o exemplo da Inglaterra, da França e da Bélgica e reconheça o direito dos povos que domina à autodeterminação e à independência.

As organizações africanas anticolonialistas das colónias portuguesas, que representam as aspirações legítimas dos seus povos, querem restabelecer a dignidade humana dos africanos, a sua liberdade e o direito a decidirem do seu futuro. Estas organizações querem que o povo beneficie de um verdadeiro desenvolvimento social, baseado num trabalho produtivo e no progresso económico, na unidade e na fraternidade africana, na amizade e na igualdade entre todos os povos, incluindo o povo português. Querem a paz ao serviço da humanidade. As organizações africanas que lutam contra o colonialismo português acreditam na existência de meios pacíficos para a conquista da independência. (Amílcar Cabral, Obras Escolhidas, in MEDINA, João (dir.), História Contemporânea de Portugal, Lisboa, Edições Mutilar, 1990, p.224)




Vamos explorar um Castelo

O castelo era não só o lar do senhor e base militar mas também o local de negócios oficiais de todas as possessões do senhor. Era necessário um grande número de pessoas para manter o castelo, as propriedades e o estilo de vida do senhor e da sua dama. Todos os trabalhos tinham a sua importância. O capitão da guarda era o ajudante e o conselheiro de maior confiança do senhor, e dirigia na ausência deste. O capitão da guarda controlava os tesouros do senhor, que incluíam ouro, prata, trajes caros e lindas tapeçarias tecidas à mão. Todos os dias, ele tinha de gerir as despesas do senhor e a manutenção do castelo. Eram os bailios e meirinhos que organizavam as quintas dos senhores e recolhiam o dinheiro das rendas. Era frequente, haver sempre um sacerdote por perto para oferecer orientação espiritual. O escanção (mordomo) tratava do vinho e da cerveja, enquanto os cozinheiros alimentavam toda a gente que passava pelo castelo.

Quando os inimigos não estavam por perto, a vida no castelo era bastante calma. Na cozinha, trabalhava-se durante quase todo o dia para preparar comida para o senhor e para os trabalhadores do castelo. Servia-se geralmente um pequeno-almoço ligeiro e uma refeição maior ao meio-dia ou à noite. Por vezes, os cavaleiros tomavam outra refeição ligeira no final do dia.

Embora o principal abastecimento de água de um castelo fosse um poço, a água da chuva era recolhida através das goteiras dos telhados e guardada em grandes bacias ou cisternas. As cisternas eram esvaziadas periodicamente e a água usada para cozinhar ou lavar.

Os ataques ao castelo podiam durar meses, os atacantes destruíam todas as colheitas e fontes de alimentação. Como tal, as despensas constituíam uma parte importante do castelo. O rés-do-chão da torre de menagem do castelo era a sua principal localização. Ali, podiam guardar-se armas e alimentos. A carne e o peixe eram salgados, fumados ou secos. A fruta e os legumes eram conservados em vinagre. O leite talhado era transformado em manteiga ou queijo duro. As uvas eram esmagadas e transformadas em vinho ou sumo por vezes usado como conservante. O mel era guardado em frascos.

O centro do castelo era a torre de menagem- a grande torre de pedra que abrigava os aposentos do senhor, o abastecimento de água e o salão nobre. A torre de menagem era, muitas vezes, uma torre separada, mas em muitos castelos medievais os andares superiores da poderosa barbacã constituíam os alojamentos mais seguros para o senhor e a sua família.

Mesmo quando os senhores não estavam a fazer uma comemoração, presidiam à refeição do meio-dia, que era servida todos os dias no salão nobre. Esta refeição podia durar horas. Os alimentos do senhor, da família e dos convidados importantes eram frequentemente encimados por enfeites. Era típico o primeiro prato ser pão, cuja crosta era enfeitada de pétalas de rosa, violetas, ervas e especiarias. No prato principal, os cozinheiros por vezes colocavam a pele dos animais ou espetavam penas na carne, para que esta parecesse fresca. Os pratos secundários incluíam ovos, amêndoas, feijões e legumes.

Em vez de pratos, toda a gente, comia sobre fatias de pão chamadas trinchas. Nas casas mais ricas, existiam colheres mas o garfo ainda não tinha sido introduzido. Os senhores e os cavaleiros traziam as suas facas para a mesa. Mas, muitas pessoas comiam com as mãos. Antes das refeições e entre os pratos, os serviçais ofereciam taças de água aromática e toalhas para se lavar as mãos. Durante a refeição da noite, que era muito mais simples do que a do meio-dia, o senhor e a família sentavam-se numa plataforma elevada ou estrato de onde podiam observar os bobos a cantar, a contar histórias e a fazer malabarismo. Os músicos que viajavam de vila em vila tinham por vezes permissão para participarem na refeição e cantarem. Estes cantores tocavam alaúde ou violino e cantavam baladas de amor ou de aventura. Enquanto os senhores e damas dançavam, com os convidados, os serviçais dançavam entre si. Por vezes, os cavaleiros reuniam-se para jogar gamão (a que chamavam «tabuleiros») ou xadrez, após a refeição.

O salão nobre era o local mais público do castelo. Os seus altos tectos de madeira, as lareiras crepitantes e o seu enorme tamanho tornavam-no o local ideal para festins e ocasiões solenes. As principais peças de mobiliário do salão eram os bancos de madeira e as grandes mesas feitas de tábuas. Em alguns castelos, o salão ficava ao nível do solo e os «animais dos senhores», como os cães, falcões e cavalos, podiam participar nas festividades. Apenas o senhor podia entrar no salão nobre montado a cavalo.

Á noite, as mesas eram desmontadas para que os serviçais pudessem dormir no salão. Contudo, tinham de repousar entre os ossos e pedaços de comida atirados para o chão durante as refeições. Por isso, salpicavam o chão de juncos e ervas de cheiro adocicado, como as ulmárias, para disfarçar o odor.

No século XV, as tendências políticas e sociais transformavam o modo como os castelos eram utilizados. As armas de cerco, como os canhões, tornaram os castelos mais vulneráveis e os governadores passaram a interessar-se mais pelo conforto do que pela guerra constante. Muitos castelos-fortaleza foram transformados em prisões ou abandonados à degradação. Actualmente, os castelos medievais são estimados e conservados- porque são símbolos de uma época que continua a fascinar o imaginário de muitas pessoas.





Vamos explorar um Castelo

Abre os portões de ferro e explora uma antiga fortaleza

Os outrora poderosos castelos da Europa medieval assentam sobre colinas relvadas. As suas janelas vazias e torres em ruínas erguem-se como lembranças silenciosas de glórias passadas: de cavaleiros e suas damas, de reinos conquistados e perdidos

Os castelos, em toda a sua magnificência e mistério, representam símbolos de pedra do sistema de poder feudal que dominou a Europa durante a Idade Média (500- 1500 d.C.).

Os castelos eram os lares de reis ou de poderosos senhores. Estes senhores, arrendavam as terras que rodeavam o castelo a agricultores e aldeãos, chamados vassalos, que juravam lealdade ao senhor.

Os castelos eram muito mais do que simples lares de nobres poderosos- eram construídos para dominar e intimidar. Os senhores construíam castelos para estabelecer o seu domínio sobre a área que os rodeava. Entre os séculos X e XV, à medida que se propagavam as batalhas por toda a Europa, milhares de castelos foram construídos e destruídos. Ao construir um castelo, uma das primeiras coisas a ter em conta era a localização. Um castelo construído sobre uma colina íngreme ou no topo de uma falésia rochosa tornava-se difícil de atacar de surpresa. A segurança era ainda maior se a colina estivesse rodeada de água por três lados.

Os primeiros castelos foram feitos em madeira. Os castelos de madeira eram construídos rapidamente, mas também se incendiavam facilmente. A seguinte geração de castelos foi construída em pedra. A maioria dos castelos de pedra foi construída entre os anos 1000 e 1350, numa época conhecida como Alta Idade Média. Os muros dos castelos possuíam mais de 2, 4 metros de espessura e os das torres eram, ainda mais espessos. Os castelos de pedra permitiam a sobreposição de quartos e a construção de lareiras com chaminés, que ventilavam através de aberturas nas paredes. Os castelos de pedra, rodeados por vários panos de muralha de torres múltiplas, eram praticamente impenetráveis.

Assim que um senhor recebia o alerta de um ataque iminente ao seu castelo, mandava chamar os seus leais cavaleiros ao serviço. Os castelos e os reinos não podiam sobreviver sem cavaleiros que os protegessem. Os cavaleiros eram guerreiros profissionais a cavalo, extremamente especializados. Embora fosse típico fornecerem apenas 40 dias de serviço por ano ao seu senhor, os cavaleiros estavam dispostos a dar a vida para cumprir o seu dever. Os cavaleiros acreditavam que a protecção do senhor e das terras era um serviço a Deus e à Igreja. Os pretendentes a cavaleiros treinavam, durante anos pela honra de servir o seu senhor e o rei. Aos sete anos, os rapazes de nobre nascimento eram enviados para o castelo como pajens dos cavaleiros. Serviam comida e entretinham os cavaleiros. Para desenvolverem as suas capacidades, montavam a cavalo, lutavam, e praticavam o uso das armas. Alguns aprendiam também a ler e a escrever. Aos 14 anos, podiam tornar-se escudeiros, ajudando o cavaleiro, a tratar do cavalo, a polir a armadura e a preparar-se para as batalhas. Os escudeiros que realizavam, um bom serviço eram investidos cavaleiros entre os 18 e os 21 anos. Como preparação era realizada uma vigília. Primeiro, tomava um banho, símbolo da purificação da sua alma. Depois, montava a vigília durante toda a noite junto das suas armas e da sua armadura, rezando na capela. No dia seguinte, uma breve cerimónia confirmava a sua entrada para a cavalaria. Em caso de necessidade, a cavalaria podia ser concedida a meio de uma batalha, por meio de um simples toque do senhor, que proferia as palavras «Torna-te um cavaleiro».

Os cavaleiros prestavam juramento a um código de cavalaria, prometiam ser leais e respeitosos para com Deus e a Igreja, corajosos em combate e estar dispostos a dar a vida pelo seu senhor, as suas terras e seus habitantes. Um cavaleiro deveria ser amável e humilde para com os seus compatriotas, independentemente da sua posição social, e não mostrar piedade perante os inimigos Um cavaleiro bem protegido tornava-se difícil de matar. O ponto mais vulnerável da sua armadura era a viseira do elmo. A armadura de metal que cobria o corpo todo só começou a ser usada a partir de 1400. Antes disso, o traje de um cavaleiro consistia em camadas de vários materiais capazes de o proteger durante o combate.

A maioria dos cavaleiros possuía dois ou três cavalos. Dois podiam ser usados para as tarefas do quotidiano e um era treinado para o combate. A arma mais poderosa do cavaleiro era a sua espada, que normalmente tinha cerca de 80 centímetros e pesava cerca de 900 gramas. Os soldados a pé tinham espadas ainda maiores, pois podiam usar ambas as mãos. Lutar montado a cavalo com uma armadura pesada e brandindo uma lança e um escudo era algo difícil de aprender. Para aprimorar as suas capacidades, os cavaleiros participavam em competições de combate, chamadas torneios. Nos séculos XII e XIII, era frequente os torneios estenderem-se por vários quilómetros e oporem exércitos. Durante um cerco os cavaleiros podiam saltar para fora do castelo através de uma pequena porta, difícil de ver, que podia situar-se a meio de uma parede. Uma vez no exterior, os defensores podiam lançar um ataque furtivo e recuperar armas do inimigo.

As notícias de que um exército estava prestes a atacar um castelo chegavam, frequentemente, através de um mensageiro. De imediato, os serventes e os guardas começavam a trabalhar na defesa do castelo. Com um bom arsenal de armas, soldados, alimentos e água havia mais hipóteses de sobreviver a um cerco. O inimigo que se aproximava emitia uma ordem de rendição ao senhor do castelo. O senhor raramente aceitava render-se, a menos que tivesse pouco poder ou sentisse que podia chegar a um acordo menos doloroso do que ver o seu castelo a ser destruído. Se um atacante tomasse posse do castelo, também tomava posse das terras que o rodeavam. Se não houvesse rendição, os soldados a pé eram os primeiros a atacar. Aríetes, que eram enormes troncos com ponta de ferro, batiam contra os portões principais. Para se defenderem, os soldados baixavam sacos almofadados, suspensos por cordas, para absorver os embates. Se as forças de ataque tentassem transpor as paredes do castelo, os solados atiravam-lhes pedregulhos. Frequentemente, os atacantes lançavam às paredes do castelo recipientes de barro cheios de uma mistura inflamável à base de óleo. Estes recipientes quebravam-se com o impacto e a mistura colava-se a tudo- até às pedras do castelo. Outros recipientes continham alcatrão a arder. Estes incêndios não podiam ser apagados com água.

Do interior do castelo, os archeiros disparavam setas através de seteiras- estreitas fendas nas paredes. Os arcos longos necessitavam de uma seteira longa, enquanto as bestas necessitavam de uma fenda horizontal. Do cimo do castelo, os archeiros soltavam uma nuvem de flechas sobre os inimigos que se aproximavam, os quais caíam rapidamente, à medida que as flechas choviam sobre eles. As bestas e os arcos longos constituíam a chave do material defensivo. As bestas podiam disparar enormes setas com pontas de ferro, chamados dardos. Os archeiros e os besteiros mais habilidosos conseguiam disparar 12 setas por minuto. Mais fáceis de carregar e mais rápidos a disparar, eram os arcos longos. Estes arcos eram da altura de um archeiro e as setas podiam alcançar distâncias de cerca de 230 metros. Era necessária uma ferramenta poderosa para fazer ruir um castelo.

Utilizado pela primeira vez na Europa do século XII, o trabuco era uma grande catapulta que lançava pedregulhos às paredes do castelo. O braço de um trabuco de cerca de 18 metros de comprimento conseguia atirar uma pedra de 90 quilos a uma distância de quase trezentos metros. Nem sempre havia pedras à disposição, por isso qualquer coisa- recipientes cheios de líquidos quentes ou inflamáveis, carcaças apodrecidas de animais de criação, cadáveres de pessoas que tinham morrido de doenças contagiosas, ou até mesmo as cabeças cortadas de prisioneiros- podia ser lançada. Os animais mortos possuíam a vantagem acrescida de poderem espalhar doenças, enquanto as cabeças cortadas se revelavam úteis na guerra psicológica. Nos trabucos mais pequenos, os braços eram puxados por homens e podiam ser recarregados mais rapidamente. Um castelo pouca defesa tinha contra um potente trabuco.

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"Os Dez Dias que Abalaram o Mundo", é o título que John Reed deu à sua obra admirável. É um livro que recorda, com uma intensidade e um vigor extraordinários, os primeiros dias da Revolução de Outubro de 1917.
John Reed era jornalista e estava na Europa cobrindo a Primeira Guerra Mundial, quando se iniciou a Revolução Russa, deslocando-se então ao centro dos acontecimentos para registar as mudanças radicais pelas quais a Rússia começava a passar. O seu contacto com o movimento acabou por extrapolar o campo das informações jornalísticas, e Reed tornou-se um ardoroso defensor do novo governo e procurou difundir as ideias comunistas nos EUA. O livro pode ser lido na íntegra na secção História Viva Leitura (clicar na imagem para aceder).

Os eventos descritos no romance "As Vinhas da Ira", de John Steinbeck, ocorrem durante a Grande Depressão do começo dos anos 1930, época em que os Estados Unidos passavam por um mau bocado. Após a quebra da Bolsa de Nova York em 1929, verifica-se naquele país um período de dura recessão económica, que se estenderá mais ou menos até 1935. Em alguns estados do Leste americano, especialmente Oklahoma, a crise económica não foi a única catástrofe com que os camponeses tiveram que lidar: uma tempestade de poeira violentíssima, conhecida como Dust Bowl, fez com que os campos rurais fossem dizimados, o que obrigou a população camponesa a fugir em direcção ao Oeste numa enorme diáspora - alguns calculam em mais de 100 mil migrantes... O livro pode ser lido na íntegra na secção História Viva Leitura (clicar na imagem para aceder).

"Todos conhecem a historia profundamente dramática da jovem Anne Frank. Publicado pela primeira vez em 1947, pela iniciativa do seu pai, o Diário veio revelar ao mundo o que foi, durante dois longos anos, o dia-a-dia de uma adolescente condenada a um voluntária auto-reclusão, para tentar escapar à sorte dos judeus que os alemães haviam começado a deportar para supostos "campos de trabalho". Tentativa sem final feliz. Em Agosto de 1944, todos aqueles que estavam escondidos no pequeno anexo secreto onde a jovem habitava foram presos. Após uma breve passagem por Westerbork e Auschwitz, Anne Frank acaba então por ir parar a Bergen-Belsen, onde vem a morrer em Março de 1945, a escassos dois meses do final da guerra na Europa. O livro pode ser lido na íntegra na secção História Viva Leitura (clicar na imagem para aceder).

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Especial biografias acerca das personalidades mais importantes da II Guerra Mundial: Os Homens da Guerra. Ver Mais »»»

Dossier "História Viva" acerca da Revolução dos Cravos. Ver Mais »»»





Na sua obra-prima "O Nome da Rosa", Umberto Eco cria um mistério extraordinariamente complexo e excitante que serve de moldura a um retrato profundo da vida monástica no século XIV. A sua habilidade na criação da atmosfera e das duas personagens de William e do seu noviço permitem ao leitor um vislumbre do que a vida monástica deve ter sido há cerca de 700 anos. O livro pode ser lido na íntegra na secção História Viva Leitura (clicar na imagem para aceder).

A fascinante Grécia Antiga abordada numa perspectiva abrangente. Ver Mais »»»

A sociedade da Idade Média, encontrava-se organizada de forma tripartida e hierarquizada. Ver Mais »»»

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A sociedade medieval estava organizada em função de determinados critérios. O nascimento (linhagem), o poder económico (posse de grandes propriedades senhoriais) e o desempenho de cargos ou funções determinavam o grupo social a que se pertencia. A sociedade, da Idade Média, encontrava-se organizada de forma tripartida (sociedade trinitária) e hierarquizada.

Privilegiados e não privilegiados:

A sociedade medieval era marcada por profundas diferenças sociais. Havia um grupo de privilegiados, que possuía a maior parte das terras e dispunham de muitos mais direitos e regalias do que os não privilegiados, que constituíam a maioria da população. Os não privilegiados pouco tinham de seu, vivendo, quase sempre, nos limites da pobreza.

No grupo dos privilegiados incluíam-se a nobreza e o clero. O grupo dos não privilegiados era formado sobretudo por camponeses que, na sua maior parte, trabalhavam nas terras do clero e da nobreza.

Estas grandes diferenças sociais eram, na época, entendidas como naturais. Considerava-se que Deus, ao fazer o mundo dividira as pessoas em três grandes grupos com funções bem determinadas: um grupo que rezava pela salvação de todos (o clero), outro que combatia, zelando pela defesa da sociedade (a nobreza) e, finalmente, um terceiro (o povo), que devia trabalhar para o seu sustento e para o sustento dos outros.

Os que rezam…

O Clero:

Os homens da Idade Média eram, na sua maioria, católicos, e a sua vida caracterizava-se por uma fé profunda e uma intensa religiosidade. Não admira, por isso, que o clero católico usufruísse de uma enorme influência e de um grande prestígio.
Para além de prestar serviço religioso, o clero era o principal grupo instruído, copiava livros, e era responsável pelo ensino nas escolas existentes nas igrejas e nos mosteiros. Era também ao clero que competia prestar assistência aos doentes, pobres e mendigos.

Reis, nobres e mesmo o povo (produtos agrícolas) faziam-lhe doações de terras e bens, contribuindo para aumento da sua riqueza.

Deve distinguir-se, quanto às funções e à riqueza, o alto e o baixo clero. Ao alto clero pertenciam os bispos e os abades (que dirigiam os grandes conventos ou abadias); ao baixo clero, os monges e os párocos.

Os que combatem…

A Nobreza:

Ser nobre, na Idade Média, era ser guerreiro. Os nobres tinham como missão defender a sociedade e participar em guerras. Em tempo de paz, a principal tarefa dos nobres era realizar exercícios desportivos que lhes dessem preparação física e treino para a guerra. Os exercícios mais frequente eram os torneios e as caçadas. Os torneios eram lutas simuladas entre cavaleiros. Mas eram as caçadas, nas florestas e matagais, que exigiam aos nobres mais força e coragem e que melhor os treinavam para a guerra.

Os nobres combatiam a cavalo, equipados com uma lança e uma espada e protegidos pelo escudo e por uma cota de malha ou uma armadura. Para protegerem a cabeça utilizavam o elmo.

A partir do século X, os nobres passaram a dispor de um duplo poder: possuíam a terra e, por isso, exigiam aos camponeses que nela viviam e trabalhavam uma série obrigações e eram detentores do direito de ban, que lhes permitia exigir impostos e aplicar a justiça a esses mesmos camponeses.

A maior parte dos nobres vivia nos seus castelos ou no castelo de um senhor mais poderoso. Lugar de protecção e defesa, o castelo era o símbolo do poder militar da nobreza senhorial (construídos inicialmente em madeira, os castelos tornaram-se, a partir do finais do século XI, poderosos edifícios de pedra, situados, em geral, em sítios elevados e de difícil acesso. À sua volta eram levantadas altas muralhas e cavado um fosso profundo. Todos esses cuidados destinavam-se a aumentar a segurança das fortificações).

Os que trabalham…

O Povo:

Cerca de noventa por cento da população medieval era constituída por camponeses. A grande maioria desses camponeses vivia nos domínios senhoriais (senhorios).
Os domínios senhoriais eram, em geral, propriedades muito extensas, divididas em duas partes distintas: a reserva e os mansos. A reserva era explorada directamente pelo senhor. Aí se situava a sua residência (as residências senhoriais eram, geralmente, imponentes castelos, de cujas torres o senhor podia vigiar as suas propriedades.

No caso dos senhorios pertencentes ao clero, senhorios eclesiásticos, a sua residência era, muitas vezes, um mosteiro) rodeada pelas diversas instalações agrícolas: celeiros, estábulos e oficinas. Os mansos consistiam em pequenas extensões de terra, cada uma delas explorada por uma família de camponeses. Cada domínio incluía ainda grandes extensões de bosques e de pastagens (os bosques e florestas pertenciam aos senhores mas, em geral, os camponeses podiam utilizá-los para levar os gados a pastar ou para recolher a madeira com que construíam as suas casas ou com que alimentavam o lume familiar. Do domínio senhorial faziam também parte hortas, vinhas e pomares destinados ao abastecimento dos senhores).
Aos camponeses do domínio era atribuído, para assegurarem o seu sustento, um manso.

Em troca tinham de pagar uma renda, em dinheiro, em produtos agrícolas e em trabalho. A imposição em trabalho consistia na prestação de certo número de dias de trabalho gratuito, as corveias (o tipo de corveias a que os camponeses estavam sujeitos variava de domínio para domínio: podiam ter de trabalhar para o senhor só numa época do ano ou vários dias, em geral três, por semana. Noutros casos era exigido aos camponeses que fizessem todos os trabalhos agrícolas, da sementeira à colheita, numa determinada extensão da reserva. Nas situações mais graves chegavam a juntar-se todas essas obrigações; de modo que o camponês ficava quase sem tempo para explorar o seu manso). Era através das corveias que os senhores cultivavam a reserva, sem nada terem de pagar.

Havia, no entanto, outras exigências feitas aos camponeses:

> participar na construção e manutenção do castelo e, em caso de guerra, colaborar no transporte de armas e mantimentos;

> usar obrigatoriamente o moinho, o forno e o lagar do senhor, pagando certas importâncias em dinheiro e em géneros (as banalidades);

> entregar ao senhor, em datas combinadas, um determinado número de cabeças de gado, de aves de capoeira e de outros géneros.




As grandes potências industriais

O apogeu da Europa

No começo do século XX, a Europa tinha uma capacidade económica superior ao conjunto dos outros continentes. Essa capacidade económica resultou: do rápido enriquecimento provocado pela industrialização e da posse de territórios coloniais (matérias-primas). Europa tornou-se:

1 - a fábrica do mundo: era no continente europeu que se concentravam a maior parte das fábricas (indústrias), portanto a Europa exportava para toda a parte os seus produtos: tecidos, máquinas…

2 - o banqueiro do mundo: os países do continente europeu investiam os seus capitais nos restantes continentes em plantações, minas, caminhos-de-ferro e portos.

3 - o comerciante do mundo: pertenciam-lhe quase todas as grandes companhias de transporte, através das quais controlava o comércio mundial (62% das trocas comerciais eram realizadas pelos Europeus).

A superioridade europeia verificava-se ainda no aspecto político (uma grande parte dos continentes asiático e africano estava sob o domínio colonial das potências europeias- Inglaterra, França, Alemanha, Portugal, Bélgica e Espanha); no aspecto demográfico (a Europa era o continente com maior população, com os maiores centros urbanos e fornecedora de emigrantes que iriam povoar os outros continentes); nos aspectos técnico-científico e cultural (os prémios Nobel científicos foram atribuídos, até 1914, exclusivamente a cientistas europeus; a literatura, a filosofia e as artes europeias impunham-se por toda a parte; as universidades e as academias literárias e artísticas atraíam estudantes, intelectuais e artistas de todo o Mundo; até na moda e nos estilos de vida as influências europeias eram evidentes).

Um desenvolvimento desigual

Os países rivais da Europa

Embora, no seu conjunto, a Europa fosse, de longe, o continente mais desenvolvido, nem todos os países europeus tinham o mesmo grau de industrialização.
As potências mais industrializadas eram a Inglaterra, a Alemanha, a França e a Bélgica. Pelo contrário, os países do Sul (como a Itália, a Espanha e Portugal) e do Leste (caso da Rússia), só lentamente começaram a industrializar-se.

A hegemonia (supremacia - poder dominante de um Estado , ou de um conjunto de Estados, sobre outros) europeia não era, porém, tão forte como parecia. De facto os Estados Unidos e o Japão começavam a tornar-se, a partir da 2.ª metade do século XX, os grandes rivais da Europa, arrebatando-lhe, pouco a pouco, o domínio de alguns mercados nacionais.

Os Estados Unidos eram já os maiores produtores em áreas como a energia e a metalurgia pesada. Quase deixaram de importar produtos europeus e tornaram-se os concorrentes da Europa, nas exportações para a América do Sul e para o Extremo Oriente (região mais oriental da Ásia, que inclui, entre outros países, a China, o Japão, a Coreia, a Indonésia e as Filipinas).

Quanto ao Japão, era, no início do século XX, uma potência industrial em franco crescimento. Os salários dos trabalhadores eram extremamente baixos, pelo que conseguia fabricar produtos a preços muito competitivos, que exportava sobretudo para os vizinhos mercados asiáticos.

Imperialismo e Colonialismo: a partilha do mundo

Na 2.ª metade do século XIX, os países da Europa ocidental empreenderam um novo e espectacular movimento de expansão para os outros continentes, em particular para a África.

Até cerca de 1880, a ocupação de África limitava-se, salvo pequenas excepções, às zonas costeiras. A partir de então, as potências europeias trataram de ocupar efectivamente o território deste continente. Para esta mudança de atitude contribuíram vários motivos:

- de ordem económica: em resultado da 2.ª revolução industrial aplicaram-se novas fontes de energia (petróleo, electricidade), novos inventos técnicos (dínamo, motor de explosão) e incrementaram-se os meios de transporte (caminhos de ferro, navios a vapor); desse modo tornou-se necessário arranjar outras fontes de matérias-primas e novos mercados;

- de ordem política e estratégica - as potências tinham vontade de afirmar o seu poderio e força militar através da ocupação de regiões e zonas estratégicas; por esta razão, na 2.ª metade do século XIX, desenvolveu-se um forte nacionalismo entre os estados europeus;

- de ordem cultural, isto é, o desejo de divulgar a cultura europeia (formas de vida, religião, costumes) junto dos indígenas e descobrir um continente ainda em grande parte desconhecido.

Então para tomar posse de territórios em África, realizaram-se várias expedições, como as de Livingstone, Stanley, Brazza e dos portugueses Serpa Pinto, Capelo e Ivens. Ora, essas viagens, dando a conhecer a imensa riqueza africana em matérias-primas, provocaram um choque de interesses entre as nações europeias. Por isso, em 1884-1885, a convite do chanceler alemão Bismarck, os países com interesse em África reuniram-se em Berlim para acordarem as condições de ocupação dos territórios africanos. Então decidiram definir um novo direito colonial, baseado na ocupação efectiva dos territórios (em substituição do tradicional direito histórico de descoberta), o que provocou rapidamente a corrida colonial a África. As potências europeias estabeleceram, em Berlim, o princípio da ocupação efectiva, isto é, os territórios africanos deviam pertencer aos países que tivesses meios para os ocupar de facto. Como calculas, era uma forma de favorecer os países mais poderosos.

F) Territórios que Portugal possuía (detinha) na Ásia: Goa, Damão, Diu, Macau e Timor.

G) Conferência de Berlim: em 1885, as principais potências europeias (os países europeus mais ricos), reunidas na Conferência de Berlim, decidiram repartir a África entre si, estabelecendo o princípio da ocupação efectiva (os territórios africanos deviam pertencer aos países que tivessem meios para os ocupar de facto. Esta decisão favorecia os países mais poderosos/ricos).

H) Mapa Cor-de-Rosa (1886) e Ultimato Inglês (1890): o princípio da ocupação efectiva, acordado na Conferência de Berlim, levou a que Portugal temesse a perda dos territórios que possuía em África. O governo de Lisboa decidiu então, para afirmar a presença portuguesa neste continente, enviar para o território africano várias expedições militares (soldados/tropas) e elaborou em 1886, o mapa cor-de-rosa (assim chamado porque os territórios entre Angola e Moçambique estavam assinalados a cor-de-rosa) que apresentou a algumas das potências europeias.

Uma vez que a Inglaterra planeava ligar o Cairo (Egipto) ao Cabo (África do Sul), em 1890 enviou a Portugal um ultimato (última ordem) no qual exigia a retirada dos soldados portugueses da zona entre Angola e Moçambique.





Dramatização:

Situação Económica, Social e Política da Rússia nos inícios do século XX

Cena 1: Dia 9 de Janeiro de 1905 - o czar Nicolau II encontra-se, no seu Palácio de Inverno, localizado em S.Petersburgo, a escrever uma carta na qual relata a situação económica, social e política da Rússia :

O meu Império abrange um vasto território na Europa do Leste e no Norte da Ásia. A principal actividade económica, no meu país, é a agricultura. A terra pertence à Igreja, à Nobreza e à Coroa. Os instrumentos e as técnicas de trabalho agrícola são rudimentares e, por isso, a produtividade dos nossos campos é baixa.

Sei, muito bem, que os camponeses reclamam acerca da sua vida: consideram-na dura e cheia de dificuldades. Os camponeses russos aspiram à posse da terra e ao fim das dificuldades a que dizem estar sujeitos.
Tenho consciência de que o nosso comércio é pouco dinâmico. A vida comercial limita-se praticamente às grandes cidades.

A indústria, de pequena expressão, localiza-se em determinados centros - S. Petersburgo, Moscovo e Baku. As principais fábricas pertencem aos estrangeiros – franceses, belgas, ingleses e alemães – que investem na minha Rússia.

A burguesia, carecida de capitais, é fraca e em número reduzido. Tenho ouvido dizer que os operários, concentrados nos grandes centros, se queixam acerca da sua vida. Dizem levar uma vida difícil devido – aos baixos salários, às horas de trabalho em excesso e ao facto de não terem sindicatos nem direito a fazer greve. Possuo, aliás, provas de que o meu povo anda descontente.

Tenho conhecimento de que os trabalhadores de S. Petersburgo escreveram uma petição a solicitar-me justiça e compreensão. Sei que nela me pedem 8 horas de trabalho diário, aumento dos salários e o fim das horas de trabalho extraordinárias… Pedidos, pedidos e mais pedidos… Eu sou o czar Nicolau II, o governante do Império Russo, senhor de ilimitados poderes e por isso não aceito pedidos, condeno todo e qualquer pedido que me seja feito… Eu concedo o que quero e não o que me é exigido!

Apoiado na Igreja, no exército e na polícia política, faço as leis, administro o país, aplico a justiça… Governo, assim, autocraticamente pois o meu poder é absoluto e ilimitado.

Cena 2: o czar Nicolau II continua a escrever a sua carta silenciosamente. No exterior do palácio de Inverno vão-se amotinando inúmeros manifestantes (alunos).
Entram na sala, onde o czar está a redigir a sua carta, dois dos seus leais soldados (alunos), dizendo:

Soldado 1: Senhor, está concentrada à porta do seu palácio uma multidão de manifestantes. Pedem pão, redução das horas de trabalho, salários mais elevados, direito à greve e a sindicatos.

Lá fora os manifestantes reclamam:

Manifestante (um dos manifestantes pede):- queremos pão!

Repetem a exigência os restantes manifestantes:- queremos pão!

Manifestante (um dos manifestantes pede): - queremos redução das horas de trabalho!

Repetem a exigência os restantes manifestantes: - queremos redução das horas de trabalho!

Manifestante (um do manifestantes pede): - queremos salários mais elevados!

Repetem a exigência os restantes manifestantes:- queremos salários mais elevados!

Manifestante (um do manifestantes pede): - queremos direito à greve e a sindicatos!

Repetem a exigência os restantes manifestantes:- queremos direito
à greve e a sindicatos!

Cena 3: um dos leais soldados do czar Nicolau II aborda-o dizendo:

Soldado 2: - senhor deseja receber alguns dos manifestantes no seu palácio? Deseja ouvir as suas reclamações?

Czar Nicolau II: não! Nunca! O meu povo não tem direito a manifestar-se. Eu concedo o que quero e não o que me é exigido… Dou-vos ordem para abrir fogo sobre os manifestantes.

As tropas leais ao czar abrem fogo sobre os manifestantes…

Cena 4: entra em cena um novo aluno (narrador ):

Aluno (narrador): - as tropas leais ao czar receberam os manifestantes a tiro, causando um elevado número de mortos e feridos. Por essa razão, o dia da manifestação, 9 de Janeiro de 1905 (dia 22 no Ocidente), ficou conhecido como “Domingo Sangrento”. Não pensem que a partir deste dia, a situação social melhorou… A verdade é que a situação social agravou-se… As manifestações continuaram, o que levou o czar Nicolau II a fazer concessões:

- estabeleceu a Duma (Assembleia Nacional), a quem passava a competir a feitura das leis;

-prometeu ao seu povo o direito ao voto e à organização sindical.

Na prática, contudo, a situação na Rússia não se alterou. Com efeito, a Duma, controlada pelo czar, foi dissolvida várias vezes e as restantes promessas não foram cumpridas. Contudo, a revolução de 1905 constituiu a primeira ameaça séria ao poder do czar.

Em Fevereiro de 1917, uma revolução pôs fim ao czarismo (o czar Nicolau II é obrigado a abdicar do trono), mas não resolveu os problemas da Rússia, agravados com a entrada do país na 1.ª Guerra Mundial.
Em Outubro de 1917, uma outra revolução deu origem ao primeiro Estado Socialista da Humanidade.

Petição dirigida ao czar Nicolau II:


“Senhor! Nós trabalhadores de S. Petersburgo, nossas mulheres, nossos filhos e nossos pais, velhos sem recursos, vimos, oh czar! solicitar justiça e compreensão. Reduzidos à mendicidade, oprimidos, vergados ao peso de um trabalho extenuante, não somos considerados como seres humanos, mas tratados como escravos. Por isso, abandonamos o trabalho e não o retomaremos até que sejam aceites as nossas justas reivindicações (…).
O pedido de 8 horas de trabalho foi rotulado de ilegal, assim como a elevação do salário a um rublo diário, para os operários de ambos os sexos, e a supressão de horas suplementares, enfim, apenas queremos uma melhoria da situação dos trabalhadores.
Qualquer um de nós que se manifeste a favor da classe operária é enviado para a prisão ou exílio. (…) Conceda, sem demora, aos representantes de todas as classes do país, o direito de se reunir em assembleia. Que todos sejam livres de eleger quem lhes interesse. Permita, por isso, que se proceda à eleição de uma Assembleia Constituinte sob o regime de sufrágio universal”.


Petição dos manifestastes de S. Petersburgo dirigida ao czar Nicolau II (1905)




A Grande Guerra

A) Diversidade política e tensões sociais: no início do século XX predominavam na Europa dois sistemas políticos opostos (duas formas de governar diferentes):

- Democracia liberal: regimes políticos parlamentares apoiados numa burguesia poderosa e influente.

- Regimes autoritários: recusavam a democracia liberal. Os representantes políticos dos países onde imperava (dominava) este regime governavam de forma autoritária/autocrática. Eram os senhores supremos do seu território, a figura incontestável. Para que a sua autoridade não fosse contestada utilizavam muitas vezes a força (repressão).
Tinham o apoio do exército e da aristocracia (camada da sociedade que possuía grandes propriedades). A burguesia e o operariado dos países onde impera este tipo de governo desejavam uma maior participação na vida política. Desejavam a liberdade de expressão, o direito à greve e à formação de sindicatos.


B) Rivalidades económicas: Inglaterra, Alemanha e França lutavam pelo “pódio” em termos industriais. Queriam ter a maior percentagem de fábricas, deter (possuir) capitais (dinheiro era sinónimo de poder económico/ de riqueza), possuir os melhores mercados, dominar as áreas ricas em matérias-primas, sobretudo nas colónias da África e da Ásia.

C) As tensões nacionalistas:

- A França continuava a exigir a devolução da Alsácia e da Lorena ocupadas pela Alemanha depois da guerra franco-prussiana (guerra travada entre a França e a Prússia- 1870);

- A Polónia, dividida entre a Rússia, a Áustria e a Alemanha, pretendia alcançar a sua independência (tornar-se num Estado autónomo, livre do domínio destes países);

- Na Península Balcânica, vários povos, com o apoio da Rússia, tinham –se libertado do Império Turco mas outros continuavam submetidos ao Império Austro- Húngaro.

Sobretudo a partir de 1910, crescia por toda a Europa o nacionalismo. A imprensa (jornais, revistas), a escola, as canções populares não só exaltavam o patriotismo como incitavam ao ódio contra as potências rivais. A opinião pública era assim preparada para a aceitação de um eventual conflito militar.

D) As alianças: Tríplice Aliança: Alemanha, Império Austro- Húngaro e a Itália; Triple Entente (ou Triplo Entendimento)- França, Rússia, Inglaterra

E) A eclosão do conflito: O incidente que conduziu ao inicio da Grande Guerra (1.ª Guerra Mundial) foi o assassinato (em Julho de 1914) do arquiduque Francisco Fernando, herdeiro do trono austríaco, em Sarajevo (na Bósnia) por um estudante Sérvio.

F) Guerra das Trincheiras: A guerra das trincheiras sucedeu à guerra de movimentos. Durante a guerra das trincheiras as tropas de cada um dos lados escavaram no solo (na terra) extensas valas e abrigos. A guerra das trincheiras foi de uma dureza indiscritível. A vida nas trincheiras era um autêntico inferno. Quando chovia, as longas e tortuosas galerias ficavam transformadas em verdadeiros rios de lama, nos quais os soldados rastejavam e se atolavam.
Além disso, as deficientes condições de higiene provocavam doenças na pele e a multiplicação de parasitas. Os soldados chegavam a tirar toda a roupa e a queimá-la porque só assim se conseguiam ver livres dos piolhos que quase os devoravam. Por vezes, as trincheiras eram invadidas por gases asfixiantes lançados pelo inimigo. As ofensivas a partir das trincheiras obedeciam sempre à mesma estratégia: vários dias de bombardeamentos feitos pela artilharia sobre o campo inimigo, seguidos de assalto pela infantaria. E os resultados eram quase sempre idênticos: o inimigo refugiava-se mas galerias mais profundas da trincheira e, quando a infantaria avançava, vinha à superfície e varria-a com metralhadoras.


G) Armamento: O armamento foi-se tornando cada vez mais mortífero. Passaram a utilizar-se canhões poderosos, grandes metralhadoras, granadas de mão, gases tóxicos; surgiram pela primeira vez os submarinos, os carros de assalto (tanques) e os aviões de combate.

H) Condições impostas à Alemanha pelo Tratado de Versalhes:

- perdeu todas as suas colónias;
- perdeu a Alsácia e a Lorena para a França;
- teve de pagar pesadas indemnizações aos países vencedores;
- foi desmilitarizada: serviço militar obrigatório foi abolido e foi proibida de possuir marinha de guerra, blindados (tanques) e aviões de combate;
- abandonou os territórios que foram integrados na Polónia

I) - O país onde se realizou a Conferência de Paz e o ano em que ocorreu:
R: Paris, 1919

- O nome dos impérios que foram desmembrados quando a guerra terminou:

R: Império Austro-Húngaro e o Império Turco

- A Organização Internacional criada em 1919, na Conferência de Paz:

R: Sociedade das Nações

- Os objectivos da Sociedade das Nações:

R: Preservar a paz mundial e promover a cooperação económica e cultural entre os Estados membros




Grécia Antiga

Características da Arte Grega:

- A arte grega dos sécs. V e IV a. C., por ser tão bela e perfeita, serviu de modelo à arte europeia de várias épocas. Dizemos, por isso, que os sécs. V e IV a. C. são um período clássico da arte (período considerado de perfeição e que por isso serve de modelo).

- A arte grega buscava o equilíbrio (do conjunto do edifício), a harmonia (das suas proporções: os edifícios não são excessivamente grandes; são construídos à dimensão humana) e a delicadeza da decoração: presente no canelado das colunas, no adorno dos capitéis, e no relevo dos frisos e dos frontões.

Arquitectura:

- Os edifícios arquitectónicos construídos pelos Gregos estavam ligados à vida religiosa: teatros (em honra do deus Dionísio), estádios (ex. Olímpia em honra do deus Zeus) e, sobretudo, templos (local onde se prestava culto aos deuses);

- Os templos, apesar de imponentes/majestosos, nunca atingem dimensões esmagadoras. Os templos apresentam dimensões equilibradas. Tratava-se de uma arte à medida do homem. Tinham planta (forma) rectangular e colunas tanto no interior como à sua volta. Assentavam sobre as colunas exteriores as traves do telhado. Os templos obedeciam a duas ordens- a dórica e a jónica – e a uma variante desta, a coríntia:
Ordem Dórica: a mais simples e de aspecto pesado, não tem base, o fuste tem caneluras de aresta viva e termina num capitel com moldura simples. Exemplo: Pártenon (o seu arquitecto foi Ictinos e devem-se a Fidías as esculturas que decoram os frisos).

Ordem jónica: é a mais elegante e leve; tem base; fuste com acabamento arredondado e o capitel desenvolve-se em graciosas volutas. Exemplo: Templo de Erectéion (templo jónico com 6 estátuas de jovens mulheres) e Atena Niké.

Ordem coríntia: a menos utilizada, trata-se de uma variante da ordem jónica, capitel decorado com folhas de acanto. Exemplo: Templo de Zeus, em Atenas.

Escultura:

- As esculturas gregas primitivas eram rígidas Ao longo do século VI a.C., os escultores foram, desenvolvendo a sua arte. As esculturas passam, então, a apresentar as seguintes características: realismo (são tão realistas que parecem ter vida), movimento (através das formas do corpo e das pregas das vestes das figuras femininas, os artistas transmitiam nas suas esculturas a ideia de movimento. As esculturas parecem movimentar-se) e serenidade;

- Deuses, heróis e atletas, bem como cenas do quotidiano constituíram os temas da escultura;

- O mais famosos escultor grego foi Fídias que decorou os frisos do Parténon. Ele procurava encontrar as proporções perfeitas que exprimissem a beleza ideal.
Cerâmica:

- Da pintura grega quase só nos restam os belos desenhos que ornamentam as suas variadas e elegantes peças de cerâmica. Além de cenas mitológicas, a pintura da cerâmica inspira-se no quotidiano. No século VI a.C. as figuras destacavam-se a negro sobre o fundo vermelho dos vasos. Mas, a partir do século V a.C., a pintura das figuras em tons avermelhados ou dourados, sobre um fundo negro, permitiu realçar os pormenores e o brilho do desenho.




Grécia Antiga

Introdução:

Os Jogos Olímpicos

Competir, vencer, ser aplaudido e tornar-se famoso para continuar vivo na memória da comunidade, eram componentes essenciais da visão de mundo dos gregos antigos. As competições permitiam-lhes, portanto, demonstrar a excelência de suas qualidades físicas e intelectuais. "Competição" em grego antigo era agón, que também significava "combate", "luta", "batalha", ou então "prova", "concurso", "jogo", e ainda "assembleia", além de "processo judiciário".

Esse amplo conjunto de significados indica as diferentes situações de que os gregos participavam com espírito de rivalidade. Em primeiro lugar, a guerra, prova máxima de enfrentamento físico. Em segundo, os embates retóricos: os debates políticos nas assembleias e as disputas nas sessões do tribunal judiciário. E para enfrentar esses desafios quotidianos, os gregos espelhavam-se nos modelos de excelência representados pelos heróis míticos, cujas façanhas eram divulgadas em poesias, como a Ilíada e a Odisséia de Homero, que os gregos aprendiam a decorar logo nos primeiros anos da escola.

Além dessas situações rotineiras, os gregos contavam com um grande número de concursos que faziam parte de festas em honra a uma divindade, patrocinadas pelas cidades e inseridas no calendário oficial. Eram, portanto, festas cívicas e ao mesmo tempo religiosas. Além dos concursos atléticos, em que se media o preparo físico dos concorrentes, havia concursos artísticos, que avaliavam o talento dos concorrentes na dança, no teatro e na música. Portanto, vencer num desses concursos era uma forma de obter glória para si, para a cidade e os concidadãos, e também de homenagear o deus celebrado.

É nesse contexto que se inserem os quatro mais importantes jogos da Grécia Antiga: os Olímpicos, celebrados no santuário de Zeus em Olímpia, os Píticos, celebrados no santuário de Apolo em Delfos, os Ístmicos, no santuário de Possêidon em Corinto, e os Nemeus, no santuário de Zeus em Neméia.

Um grande público, vindo de todos os cantos da Grécia, acorria àqueles santuários. Os jogos, além de festa religiosa, eram também um grande acontecimento cultural, prestigiado por líderes políticos, negociantes e, sobretudo, artistas, pois representavam uma excelente oportunidade para escritores, músicos, pintores e escultores divulgar as suas obras.

A presença de mulheres era vedada, tanto nas provas como na plateia. A única excepção feita era à sacerdotisa de Deméter, que assistia a todos os espectáculos, acomodada em seu altar de mármore. Contudo, em Olímpia celebravam-se, só para as mulheres, os Heraia ou Jogos Heranos, em honra à deusa Hera, esposa de Zeus. Os jogos consistiam em provas de corrida a pé, disputadas por mulheres, e terminavam com sacrifícios, procissão e festas.

Fonte: http://olimpia776.warj.med.br/txt01.html

Os Jogos Olímpicos (Parte 2)

Os Jogos Olímpicos eram a mais importante festa pan-helênica do mundo grego. Deles só podiam participar homens livres e em pleno gozo de seus direitos de cidadão. Assim, como bem observa Manolis Andronicos, as Olimpíadas criavam condições para que os gregos, subdivididos em grupos que viviam em centenas de pólis (cidades-estados) independentes e em constantes atritos entre si, adquirissem consciência de sua
unidade nacional.

Os Jogos eram dedicados a Zeus, a divindade suprema, e aconteciam em seu santuário em Olímpia, na região de Élis, a oeste do Peloponeso. O santuário contava com o ginásio, a palestra, o estádio, o hipódromo, além de um hotel e dois templos, um de Hera e um de Zeus. Este era o maior templo da Grécia continental e possuía, no seu interior, a célebre estátua de Zeus, considerada pelos antigos uma das sete maravilhas do mundo.

A tradição grega associava às origens míticas dos Jogos Olímpicos dois grandes heróis: Pélope e Héracles. Quando Pélope chegou à região de Élis, vindo da Lídia com grande quantidade de tesouros, fez parada na cidade de Pisa, onde reinava Oinomaos. Esse rei tinha uma filha, Hipodâmia, que ele se negava a dar em casamento. Quando aparecia algum pretendente, o rei propunha-lhe uma disputa na corrida de carros. Se o pretendente vencesse, levaria Hipodâmia como prémio; se, ao contrário, fosse derrotado, seria morto pelo rei. Pélope interessou-se pelo desafio. Àquela altura, o rei já havia dado a morte a doze pretendentes. Acontece que Hipodâmia se apaixonou por Pélope e tratou de favorecer o seu amado: convenceu por meio de suborno o cocheiro de Oinomaos a substituir os eixos do carro do rei por outros mais fracos, que se romperam durante a prova, causando a morte de seu próprio pai. Assim, Pélope conseguiu casar-se com Hipodâmia e instituiu jogos em honra do rei morto.

Depois de um certo tempo, esses jogos deixaram de ser celebrados. Coube, então, a Héracles reactivá-los, em comemoração à sua vitória sobre Áugias, um rei de Élis possuidor de numeroso rebanho, cujo estábulo nunca havia sido limpo. Toda a vizinhança sofria com o mau cheiro que exalava de seus domínios; além disso, o solo já não produzia mais, tão grande era a quantidade de esterco que o cobria. A limpeza do estábulo foi realizada por Héracles. Do conjunto dos famosos Doze Trabalhos, esse foi o sexto. Acertado com o rei o preço da tarefa - ele deveria receber uma décima parte do rebanho - pôs mãos à obra: derrubou duas das paredes do estábulo e, a seguir, desviou os cursos de dois rios da vizinhança, cujas águas levaram todo o esterco. O rei, entretanto, negou-se a pagar o combinado e expulsou-o violentamente do território. Para vingar-se, Héracles organizou uma expedição contra Áugias, invadiu o seu reino e o matou.

Aconteciam em pleno verão, na semana de lua cheia do mês metagitnion (correspondente à segunda quinzena de Agosto e primeira de Setembro do nosso calendário). Foram celebrados regularmente a partir de 776 a.C., data do primeiro registro dos vencedores. A partir dessa data, os gregos adoptaram os Jogos Olímpicos como referência cronológica, chamando "olimpíada" o período de quatro anos entre um festival e outro. A era das Olimpíadas estendeu-se aproximadamente por 12 séculos, até 393 d.C., quando foram abolidos pelo imperador romano Teodósio, que, convertido ao cristianismo, proibiu os cultos pagãos.

Os preparativos da festa começavam dez meses antes da abertura, quando se nomeava uma comissão organizadora, cujos membros, chamados helanódices (“juizes dos helenos”), além de assumirem todas as responsabilidades pela organização dos jogos, desempenhavam também a função de juizes. Algum tempo antes da abertura dos jogos, os arautos spondophóroi (“portadores da trégua) divulgavam por toda a Grécia a trégua sagrada, que suspendia as guerras por três meses, a fim de proporcionar uma viagem de ida-e-volta segura às pessoas que pretendiam deslocar-se para Olímpia. A partir do século IV a.C., a região de Élis foi proclamada inviolável. Entrar naquele território portando armas era sacrilégio.

O atleta inscrevia-se, nos prazos fixados, para as modalidades em que pretendia competir. Uma vez aceita a inscrição, ele devia comparecer a Olímpia dois meses antes do início dos jogos, para submeter-se a treinamento especial, sob o controle dos helanódices e do ginasiarca, a fim de que fosse confirmada ou alterada sua inscrição numa dada categoria, de acordo com sua idade e força física. Além disso, nesse período o atleta tomava ciência dos regulamentos das provas. Qualquer infracção às regras acarretava pesadas multas e sanções não só ao atleta mas também à sua família. Os infractores perdiam a credibilidade, eram desmoralizados socialmente e não podiam participar de outros concursos.

Um mês antes do início das provas, helanódices e atletas, acompanhados de seus familiares e amigos, participavam de uma procissão solene que ia de Élis até Olímpia (58 quilómetros), pela Via Sagrada.

Os jogos duravam sete dias. O primeiro e o último eram dedicados a cerimónias religiosas. No primeiro dia, a cerimónia inicial era o juramento solene, no altar de Zeus; os helanódices juravam julgar as provas com equidade e os atletas juravam respeitar todos os regulamentos e agir com lealdade. A seguir, acontecia o sacrifício no altar de Zeus. Depois, todos seguiam para o estádio e os arautos declaravam a abertura oficial dos jogos. No dia do encerramento, organizava-se outra procissão e um banquete.

As provas consistiam em competições de exercícios corporais de força ou agilidade. Dividiam-se em concursos gímnicos e concursos hípicos. Os concursos gímnicos realizavam-se no estádio. Compreendiam: as corridas (simples, dupla, de fundo e com armas); o pugilato; o pancrácio e o pentatlo. Os concursos hípicos aconteciam no hipódromo e compreendiam as corridas de carros e o hipismo. Além dessas provas atléticas, havia também concursos de tocadores de corneta e concursos de arautos, com a finalidade de premiar os que tivessem maior força e capacidade pulmonar.

A vitória implicava alta honra não só para o vitorioso, como também para sua família e para sua cidade natal. O arauto proclamava o seu nome, o nome de seu pai e o de sua pátria. Ele tornava-se um Olimpiônico. Como prémio material, recebia uma coroa de folhas de oliveira. O que importava mesmo era a aclamação do público. A sua cidade natal recebia-o triunfalmente e os poetas, como Píndaro, imortalizavam-no em canções que espalhavam a sua fama por toda a Grécia. O nome do vencedor era inscrito no catálogo oficial dos olimpiônicos, conservado no ginásio. Se ele próprio ou os amigos tivessem recursos financeiros, contratava-se um escultor para fazer a sua estátua, que seria colocada em Olímpia ou em outro lugar. Atenas recompensava os seus cidadãos vitoriosos em Olímpia patrocinando-lhes a alimentação pelo resto das suas vidas. Nos concursos equestres, o prémio destinava-se ao dono do carro ou do animal vencedor; contudo, a vitória era mais gloriosa quando o próprio dono participava da competição como condutor.

Fonte: http://olimpia776.warj.med.br/txt02.html

7ª parte: Arte Grega »»»





Grécia Antiga

Religião e Cultura (síntese)

A. A religião.

• Os Gregos eram politeístas – adoravam vários deuses.

Características dos deuses gregos

I. Seres superiores e imortais.

II. Tinham poderes sobrenaturais.

III. Eram antropomórficos (forma humana), mas podiam-se transformar (metamorfose) ou tornarem-se invisíveis.

IV. Tinham qualidades e defeitos semelhantes aos homens.
Para os gregos, todas as coisas aparentemente inexplicáveis eram sobrenaturais e decorrentes da acção de divindades que ninguém era capaz de ver ou, então, obra de heróis do passado.

Deuses e deusas comportavam-se como seres humanos: amavam, odiavam, comiam, bebiam, tinham filhos, etc. Eram, porém, imortais, poderosíssimos e muito, muito susceptíveis. Uma simples palavra errada, uma homenagem não efectuada, e a ira divina caía com todo o peso sobre os pobres mortais...

Os deuses mais importantes eram doze e viviam no Olimpo, um monte elevado e constantemente nevado localizado no extremo norte da Grécia. Eram eles: Zeus, senhor do raio e pai dos deuses e dos homens; Hera, a protectora do casamento; Deméter, a deusa da agricultura; Posídon, o senhor dos mares; Afrodite, deusa do amor sensual; Atena, deusa da sabedoria; Ares, deus da guerra; Apolo, deus da adivinhação, da música e da medicina; Ártemis, deusa da caça e protectora da vida selvagem; Hefesto, deus do fogo e dos metais; Hermes, condutor da alma dos mortos e mensageiro dos deuses; Dioniso, deus do vinho e da embriaguez.

Os heróis ou semideuses eram filhos de um deus e de uma mortal (ou vice-versa) e, embora mortais, eram capazes de façanhas sobre-humanas, como por exemplo derrotar certo número de monstros maléficos que haviam ameaçado a humanidade em tempos remotos. O mais popular de todos foi Héracles, que realizou os famosos e perigosíssimos "Doze Trabalhos" para expiar um crime involuntário.


Formas de culto aos deuses

• Cultos domésticos: realizados em altares domésticos.

• Cultos cívicos: cortejos religiosos, teatros e jogos em cada cidade. Havia também jogos pan-helénicos; os principais – Jogos Olímpicos – na cidade de Olímpia em honra de Zeus. Os primeiros jogos realizaram-se em 776 a.C. e prosseguiram de 4 em 4 anos até 393.

• Cultos pan-helénicos: em grandes santuários comuns a todos os Gregos (Templo de Apolo em Delfos…).


B. O teatro.

> Origem – ligada ao culto de Dionísio (deus do vinho), na Primavera.

> Local de realização – teatros semicirculares ao ar livre.

> Principais géneros teatrais:

> Tragédia.

> Comédia.

• Principais autores:

> Esquilo.

> Sófocles. Tragédia

> Eurípedes.

> Aristófanes. Comédia

C. A filosofia, a história, a ciência.

a) Os Gregos, nomeadamente os Atenienses, procuravam a explicação da origem do Universo, da vida e das forças da Natureza. Desenvolveram a filosofia. RAZÃO contra MITO

b) Principais filósofos:

> Sócrates e os seus discípulos Aristóteles e Platão.

c) Pioneiros na investigação histórica:

> Heródoto.

> Tucídides.

d) Outras Ciências:

> Matemática: Pitágoras (teorema).

> Medicina: Hipócrates (Juramento).

> Literatura: Homero (Ilíada, Odisseia) e Hesíodo

> Oratória: Péricles e Demóstones.

6ª parte: Jogos Olímpicos »»»





Grécia Antiga

O dia-a-dia na cidade de Atenas

A maior parte dos Atenienses vivia no campo, entregue aos trabalhos rurais. Cultivando a terra com o auxílio de dois ou três escravos, os pequenos proprietários da Ática levavam uma vida simples e frugal. Não gostavam do bulício e dos costumes da cidade e apenas aí se deslocavam para vender os seus produtos ou para participar, uma ou outra vez, nas sessões da Eclésia.

Ao contrário, os Atenienses que habitavam na cidade apreciavam a vida movimentada e, sobretudo tinham orgulho nas magníficas construções que, desde o templo de Péricles, embelezavam Atenas: as novas muralhas e templos da acrópole, os grandiosos edifícios públicos da ágora. À sua volta as ruas eram estreitas, tortuosas e sujas, porque nem sequer havia sistema de esgotos. As casas de habitação, mesmo nos bairros ricos, eram modestas. Mas os atenienses pouco se importavam com isso, pois passavam a maior parte da vida ao ar livre, frequentando a Pnix e os tribunais, ou deambulando na ágora.

Era ali, na ágora, o verdadeiro coração da cidade. À sombra dos plátanos, amontoavam-se lojas e barracas de feira, onde se podia adquirir toda a espécie de produtos (vestuário e perfumes, potes de cerâmica e outros utensílios caseiros, vinho, legumes, etc.) e frequentar o livreiro ou ir ao barbeiro. Entre os magotes de gente, no meio do alarido dos camponeses, artificies e comerciantes fazendo os seus negócios, o cidadão arranjava sempre lugar para se encontrar com os amigos e tagarelar sobre as últimas novidades. Depois, talvez cansado da agitação da ágora, podia gozar algumas horas de repouso num dos ginásios dos arredores da cidade, praticando exercício ou admirando as proezas dos jovens atletas.

A vida doméstica

A família e o lar pouco atraíam os homens atenienses. Em compensação, esse era o mundo das mulheres. As mulheres, em Atenas, viviam entregues exclusivamente aos trabalhos domésticos e à educação das crianças. Habitavam com os filhos pequenos numa dependência da casa que lhes estava reservada, o gineceu, mantendo-se quase completamente afastadas da vida pública. Só raramente saíam à rua, às comprar e, quando o faziam, iam acompanhadas de uma escrava. Nem sequer era hábito assistirem a certas festividades públicas, como por exemplo os jogos ou as comédias.
Com frequência, os atenienses ricos recebiam convidados em sua casa. Enquanto decorria o banquete, as mulheres da casa permaneciam retiradas no gineceu. Os homens divertiam-se alegremente, bebendo e conversando, reclinados nos seus leitos, enquanto os músicos e, às vezes, as bailarinas animavam o serão.

A formação do cidadão: a educação dos jovens

Havia em Atenas, mais do que em qualquer outra Cidade - Estado, uma grande preocupação com a educação dos jovens, pois era necessário prepará-los para virem a participar na vida democrática.

Até aos 7 anos, os pequenos atenienses viviam no gineceu, entregues aos cuidados da mãe e de outras mulheres da casa. A partir dessa idade, as meninas ficavam em casa, preparando-se para serem mães enquanto os rapazes eram enviados à escola, que funcionava sempre na residência de mestres particulares. Se a família era abastada, o rapaz ia acompanhado pelo seu pedagogo, um escravo encarregado de o vigiar e auxiliar nos estudos. O pedagogo era, na realidade, um preceptor, a quem cabia em grande parte a educação moral da criança: ensinava-lhe os bons costumes e as boas maneiras, os deveres de cidadão, etc.

A educação era considerada função do Estado e, como tal, era uniformizada e não competia apenas aos pais, mas também a dois professores: o pedagogo, que acabamos de falar e o pedotriba, que orientava a preparação física.

Na escola, a criança aprendia a ler e a escrever e a recitar os poemas antigos. Era principalmente através dos poemas homéricos, a Ilíada e a Odisseia, que ela ficava a conhecer as acções dos grandes heróis, que lhe deviam servir de exemplo moral. Estes dois longos poemas narram os feitos dos antigos heróis aqueus. Os versos que constituíam estes dois poemas eram sem sombra de dúvida uma fonte de ensinamento morais, incitando os jovens a seguir os exemplos de bravura, de lealdade, de astúcia e de espírito de sacrifício. Na escola os rapazes estudavam, ainda, rudimentos de aritmética e sobretudo música, pois para os Gregos esta representava a forma mais elevada de enriquecer o espírito.

Aos quinze anos, o rapaz começava a frequentar ginásios. Os ginásios eram recintos públicos, situados geralmente em parques arborizados, onde se praticava atletismo, sobre a orientação dos mestres de educação física. Dois ginásios ficariam famosos para toda a História devido à proficuidade das suas actividades: a Academia, de Platão, e o Liceu, do seu discípulo Aristóteles. Nos ginásios ensinava-se também Matemática e Filosofia.

O jovem podia adquirir, no ginásio, não só a destreza física necessária para combater em defesa da pólis, como a capacidade de exprimir correctamente o pensamento para participar nos debates da Eclésia ou nos tribunais.

Aos dezoito anos, o efebo (“homem jovem e belo”) cumpria um serviço militar de dois anos, que lhe permitiria defender a sua cidade.
Aos vinte anos o jovem era, finalmente, um cidadão na plena posse dos seus direitos cívicos.

No entanto, a sua formação continuaria pela vida fora, nomeadamente através do contacto com a Filosofia. No século V a. C. os jovens maravilharam-se com os sofistas, professores que iam de cidade em cidade discutindo sobre os mais variados assuntos graças ao seu saber enciclopédico. No entanto, o facto de se fazerem pagar pelas suas aulas e de serem capazes de criticar ou defender pelo puro prazer da arte da retórica fê-los perder bastante do seu crédito. Sócrates, Platão e Aristóteles, em contrapartida, nunca deixaram de influenciar, até aos nossos dias, o pensamento do mundo ocidental.

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Grécia Antiga

Funcionamento do Regime Democrático:

“Temos um regime político que não nos faz invejar as leis das cidades vizinhas. Pelo contrário, em vez de querermos imitá-las, somos o seu modelo e exemplo. O nome desse regime é democracia, porque procura satisfazer o maior número de pessoas e não apenas uma minoria. As nossas leis concedem os mesmos direitos a todos os cidadãos [...]. Só o valor de cada cidadão conta para atribuição de distinções e honras. O mérito vale mais do que a fortuna. A pobreza não impede que um cidadão capaz desempenhe cargos públicos na pólis. [...] Somos tolerantes, mas mantemo-nos fiéis aos magistrados e às leis. [...] Numa palavra, a nossa cidade é a escola da Grécia”.

Tucídes, História da Guerra do Peloponeso, séc. V a. C.

“Temos um regime político que não nos faz invejar as leis das cidades vizinhas. Pelo contrário em vez de querermos imitá-las, somos o seu modelo e exemplo. O nome desse regime é democracia, porque procura satisfazer o maior número de pessoas e não apenas uma minoria. As nossas leis concedem os mesmos direitos a todos os cidadãos (...). Só o valor de cada cidadão conta para a atribuição de distinções e de honras”.

Discurso de Péricles, in Tucidides

A Democracia foi implementada em Atenas em 508 a. C. (séc. V a. C.) pelas reformas de Clístenes.

Características da Democracia Ateniense:

> o poder de governar pertence ao povo, isto é, ao conjunto dos cidadãos;

> igualdade de direitos de todos os cidadãos;

> Péricles determinou que os cargos públicos fossem pagos, de forma a que todos os cidadãos, mesmo os mais pobres, os podessem exercer (mistoforias);

> qualquer cidadão podia ser eleito ou sorteado para os cargos públicos, para mandatos anuais;

> a Democracia Ateniense era uma Democracia Directa, isto é, todos os cidadãos participavam na Eclésia (Assembleia dos Cidadãos) e todos podiam ser eleitos ou sorteados para as outras instituições (a Isonomia, norma que estabelecia que as leis eram iguais para todos os cidadãos, independentemente da riqueza ou do prestígio destes, garantia que o cidadão se destacava pelo mérito e não pelos bens ou nascimento. A Isocracia, regra que estabelecia que todos os cidadãos tinham igual direito ao voto e a desempenhar cargos políticos, encorajava a participação na vida política da cidade. A Isegoria- igual direito de todos os cidadãos ao uso da palavra- favorecia o discurso político como forma de participação cívica).


Limitações da Democracia Ateniense:

> Apenas os cidadãos (uma minoria da população) podiam participar na vida política da pólis;

> Às mulheres dos cidadãos não era permitido participar na vida política e tinham direitos muitos limitados, estando na dependência dos pais ou dos maridos;

> Os metecos (estrangeiros residentes em Atenas), embora tivessem um papel fundamental na economia, pagassem impostos e cumprissem serviço militar, não tinham direitos políticos;

> A sociedade ateniense era esclavagista. Os escravos eram considerados objectos. Eram propriedade dos seus donos e não possuíam quaisquer direitos.

> Praticava o ostracismo (exílio), afastando os que pusessem em perigo o regime democrático.

Funcionamento do regime democrático:

> Eclésia - era a assembleia de todos os cidadãos. Votava as leis, o ostracismo, decidia a guerra e a paz e elegia anualmente os Estrategos. Realizava-se três a quatro vezes por mês, ao ar livre, e nela deviam participar todos os cidadãos. O voto exercia-se de braço no ar, mas os cidadãos podiam também exigir que ele fosse secreto.

> Bulé- preparava as leis a aprovar na Eclésia. Formavam este Conselho 500 membros, sorteados anualmente. Ninguém podia ser membro da Bulé mais do que duas vezes na vida.

> Tribunais:

- Helieu: constituído por 6ooo juizes sorteados anualmente. Estava incumbido da maior parte dos delitos.
- Aeropágo: formado por antigos Arcontes que exerciam o cargo vitaliciamente. Competia-lhes o julgamento dos crimes de homicídio e de desrespeito aos deuses da cidade .

> Magistrados:

- Estratregos: 10 cidadãos eleitos anualmente. Comandavam a marinha e o exército e aplicavam as leis.
- Arcontes: 10 cidadãos sorteados. Competia-lhes a organização das grandes cerimónias funerárias e religiosas. Era entre os antigos Arcontes que se recrutavam, vitaliciamente, os membros do tribunal do Aeropágo.

A democracia ateniense e a democracia actual

Pontos em comum:

- a vontade de satisfazer os desejos da maioria dos cidadãos (ainda que nos nossos dias o conceito de cidadão seja diferente);

- a divisão de poderes- legislativo, executivo, judicial- pelas diferentes instituições;

- o uso da retórica como arma política;

- o tratamento igual de todos os cidadãos perante a lei.
Eram características da democracia ateniense, nomeadamente:

- um corpo cívico reduzido em comparação com o das democracias actuais (porém, alargado, em comparação com o dos regimes políticos da Antiguidade);

- a aplicação do ostracismo;

- a existência legal da escravatura;

- a discriminação das mulheres e dos estrangeiros;

- a valorização do sorteio como forma de participação política;

- a democracia directa (impraticável nos nossos dias, pelo grande volume da população).

Síntese: o sistema democrático ateniense rodeava-se de todas as cautelas para prevenir a corrupção e os abusos de poder, e fazia com que todos os cidadãos participassem no governo da cidade. Porém, é necessário balizar os limites em que se encaixava este espírito democrático. Quem era considerado cidadão na Grécia Antiga?
Na Grécia Antiga apenas eram considerados cidadãos, os indivíduos livres (não-escravos) do sexo masculino, filhos de pai (e mãe, por decisão de Péricles) ateninese, maiores de dezoito anos e com serviço militar (de dois anos) cumprido.

Eram excluídos dos direitos políticos as mulheres (direitos: cuidar das crianças na parte feminia da casa - gineceu; assistir às festas no templo de Hera; deveres: trabalhos domésticos; sujeição à tutela do pai, do marido ou do filho mais velho), os metecos (direitos: exercício do comércio e do artesanato; participação nas festas da cidade- por exemplo, na procissão das Pan-Ateneias, onde levavam as bacias com objectos de sacrifícios de animais - ou nos Jogos Olímpicos - como espectadores; deveres: pagar impostos, cumprir serviço militar, exercer as coregias - custear espectáculos públicos) e os escravos (direitos: nenhuns - eram propriedade dos seus donos, deveres: trabalho nos serviços domésticos, campos, oficinas, minas de prata de Láurio).

Existia assim na Grécia Antiga uma sociedade desigual e esclavagista, uma vez que assentava no trabalho escravo, o que contradiz os princípios da noção actual de democracia.

Apesar da exclusão das mulheres da vida política, ainda assim ficaram famosas várias figuras femininas da cultura grega, tais como Safo (poetisa) e a Pítia ou pitonisa (sacerdotista que respondia às questões dos peregrinos em Delfos). Também alguns escravos, raros, destacaram-se pela sua sapiência, tendo-se tornado professores (pedagogos) de renome já no tempo da dominação romana.

Para além da segregação (separação) dos sexos e da discriminação de certos estratos populacionais, a democracia ateniense foi já contestada por outras questões, nomeadamente a do ostracismo: sabemos, através das placas de barro (ostracas)- que perduraram até à actualidade, que a Eclésia expulsou (baniu) da cidade de Atenas figuras marcantes da vida política, simplesmente por não concordarem com a linha dominante de pensamento.

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Grécia Antiga

Cidades-Estado (pólis):

“Se a população de uma Cidade–Estado for demasiado escassa, não pode satisfazer as necessidades básicas; se for demasiado numerosa, (...) quem poderá governar uma multidão tão vasta? (...) Tanto para julgar como para distribuir os cargos públicos, é indispensável que os cidadãos se conheçam bem entre si (...). Para que exista uma pólis, devem, antes de mais, existir alimentos; depois ofícios, pois a vida necessita de muitos instrumentos; em seguida armamento (...) para garantir a autoridade dentro da cidade e repelir as ameaças externas; depois ainda o culto dos deuses, que é o primeiro elemento em importância; e por fim, o que é mais necessário, uma autoridade capaz de decidir o que é justo e conveniente para os cidadãos.”

Aristóteles, Política (Séc. IV a . C)

No século V a. C, a Grécia era um mosaico de Cidades-Estados. Esta forma de organização política teve origem no século VIII a. C. Por esta época, a população cresceu e as aldeias começaram a agrupar-se em torno do aglomerado urbano mais importante de cada região. Nasceram assim as Cidades- Estado, a que os Gregos davam o nome de pólis.

Uma pólis era uma comunidade de homens livres, os cidadãos que obedeciam às mesmas leis, tinham um governo próprio e ocupavam um território independente, que se estendia em volta de um centro urbano. Havia na Grécia mais de duas mil Cidades-Estado. Com efeito, a maior parte delas tinham dimensões muito reduzidas. Só Atenas, Esparta e Tebas possuíam territórios com mais de 2500 Km2. Muitas cabiam nos limites de um vale ou de uma pequena ilha.

Cada pólis tinha orgulho na sua independência. Os cidadãos estavam ligado por um forte sentimento de unidade. Encontravam-se, na ágora, a praça-pública da cidade, e ali conviviam e discutiam assuntos de interesse geral. Prestavam culto aos deuses e heróis da pólis nos tempos que se erguiam na acrópole, a parte alta e amuralhada da cidade. E era também na cidade que se juntavam em assembleia, para decidirem sobre os destinos da comunidade.

O mundo helénico não ficou limitado à Grécia europeia, às ilhas do mar Egeu e às costas da Ásia Menor. Desde meados do século VIII a. C,. começou na Grécia um movimento de emigração. A população tinha aumentado excessivamente e, devido, a esse aumento demográfico, os recursos tornavam-se escassos, provocando a miséria e conflitos sociais nas Cidades-Estados. Para fugir à fome ou às perseguições, muitos gregos faziam-se ao mar, em busca de fortuna.

Partiam em grupos, levando consigo o fogo sagrado que ardia nos altares da pólis. Procuravam um lugar fértil e pouco povoado, em qualquer ponto da costa do Mediterrâneo, e aí se fixavam, fundando uma colónia. A colónia ia crescendo com a chegada de novos emigrantes, atraídos pela existência de terras ou de matérias-primas propícias ao comércio. E, embora se tornasse uma pólis independente, os seus cidadãos continuavam a manter laços profundos com a metrópole, a terra-mãe, donde haviam partido.

No século V a.C., o povo grego achava-se espalhado por numerosas colónias, que se estendiam desde as costas do mar Negro até à Península Ibérica, situando-se as mais ricas e povoadas na Magna Grécia (Sul da Itália e Sicília). Os navios de comércio grego percorriam todo o Mediterrâneo, ligando entre si as diferentes parcelas do mundo helénico.

Cidade-Estado (Pólis)

Metrópole: cidade-mãe, isto é, cidade-estado de onde partiam os colonos para fundar novas cidades-estado noutras regiões, as colónias.

Colónia: Cidade-Estado fundada fora da Grécia. Apesar de politicamente independentes, continuavam ligadas à metrópole por laços comerciais, culturais e
religiosos.

Para subsistir, a pólis necessitava de uma zona rural, mas também de um espaço para trocas internas, para o comércio com o exterior- por exemplo, o Porto de Pireu-, para a produção artesanal, para a habitação, para o culto e para a governação.
A estrutura básica da cidade-estado organizava-se em duas zonas (além da zona rural):

- a acrópole: local de defesa, elevado, muralhado, onde se localizavam os principais templos;

- a ágora: praça pública localizada na parte mais baixa da cidade, onde se realizavam as trocas comerciais, os encontros sociais, a governação. Na ágora encontravam-se o mercado, as casas de habitação (construídas com simplicidade), os órgãos de governo, templos e pórticos (stoas).

O clima ameno, mediterrânico, favorecia a vida ao ar livre, seja na forma de procissões, como os cortejos das Pan-Ateneias, seja na de reuniões da Eclésia, na colina Pnyx, onde se discutiam e votavam as leis.

A pólis, podendo significar simultaneamente um Estado, um povo e uma cidade, era mais pequena que os actuais países europeus, permitindo uma governação desburocratizada e uma efervescente actividade cultural.

O historiador Tucídides dizia que Atenas era “a escola da Grécia”, com justa razão: tornou-se um paradigma (exemplo) para as restantes cidades-estado devido ao seu regime político inovador: a democracia. Esta atribuía o poder (Kratos) ao povo (demos). A democracia estabelecia a igualdade entre todos os cidadãos:

- igualdade perante a lei (isonomia);

- igualdade de acesso aos cargos políticos (isocracia);

- igual direito ao uso da palavra (isegoria).

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Grécia Antiga

Algumas das primeiras civilizações tinham nascido à beira do Mediterrâneo. É ainda no mundo mediterrâneo que Atenas e as outras Cidade-Estado gregas se desenvolvem e prosperam, criando uma brilhante civilização: aberta e tolerante. A Grécia deixará à humanidade um legado prodigioso: as primeiras instituições democráticas e, com elas, a afirmação dos grandes valores humanistas- a igualdade de direitos, a livre procura da verdade, o poder da razão - valores que transparecem na serena harmonia das suas obras de arte.

Localização (Espaço):

Hélade (Grécia): Sueste da Europa, península Balcânica, banhada a ocidente pelo Mar Jónico e a oriente pelo Mar Egeu.

Colonização Grega:

Nas costas do Mar Mediterrâneo e do Mar Negro.

Tempo:

Século V a. C.

Condições naturais:

> Área montanhosa, vales estreitos, costa muito recortada;
> Numerosas ilhas;
> Solo pobre e acidentado.

Elementos de Unidade:

- Língua
- Religião
- Jogos
- Costumes
- Cultura
- Actividade comercial

Economia Ateniense

Actividade Marítima de Atenas

Actividades económicas:

> Agricultura:

- vinha;
- oliveira;
- cereais.

> Criação de Gado (Pastorícia).
> Actividades artesanais:

- cerâmica,
- metalurgia (trabalho dos metais);

> Construção Naval (construção de navios de comércio e de guerra).
> Comércio (intensa actividade comercial marítima, a partir do porto de Atenas - o Pireu):

- Importação: cereais, madeira, metais.
- Exportação: produtos agrícolas e artesanais.

> Extracção de prata e cunhagem de moeda - o dracma.
> Actividade marítima de Atenas.

Moeda: o Dracma

> Em consequência do desenvolvimento económico, Atenas cunhava moeda – o Dracma, que passou a ser usado no comércio, evitando as trocas directas de produtos.

Atenas, uma grande potência marítima:

> detinha uma grande frota comercial e militar, com que dominou os mares.
> liderou a Liga de Delos (aliança de cidades-estadogregas contra os Persas)
Atenas possuía uma economia monetária, comercial e marítima
> Supremacia Económica no mundo grego.

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