José Estaline - Josef Vissarionovich Djugashvili [1879-1953]
O Homem de ferro
Na verdade, Estaline é muito simpático, disse James Byrnes, ex-secretário de Estado dos EUA, que o tinha conhecido em Ialta. Sobre o seu primeiro encontro com ele, escreveu Anthony Éden em Memoirs. Facing the dictators: «Estaline impressionou-me desde o primeiro momento, e a minha opinião sobre a sua capacidade não mudou. Transmitia a sua personalidade sem esforço e exagero. Tinha naturalmente boas maneiras, quiçá uma herança georgiana. Ainda que eu soubesse que era um homem sem piedade, respeitei a sua qualidade de inteligência, inclusive senti uma simpatia que nunca fui capaz de analisar totalmente».
A astúcia do asiático
Os biógrafos de Estaline passaram quase todos pela perplexidade de sentir a simpatia por ele e não poder explicá-la, talvez à excepção do seu mais encarniçado inimigo, Leon Trotsky. Este, na sua biografia apaixonada de Estaline, cita o velho revolucionário Leonidas Krassin como o primeiro a chamar a Estaline asiático, referindo-se a essa ligação de inteireza, sagacidade, astúcia e crueldade que se considerou característica dos homens de Estado da Ásia. Destas expressões, astúcia e crueldade, sobretudo a crueldade, é a que ficou como a mais definidora da personalidade de Estaline, que em russo se pode interpretar como homem de ferro. Nasceu José Vissarionovich Djugashvili na cidade de Gori (Geórgia, Transcaucásia), a 21 de Dezembro de 1879. Filho de um sapateiro que bebia demasiado e que lhe batia, e de uma amantíssima mãe que o adorava e era lavadeira. Foram a firmeza e o amor dela que tiraram Soso (diminutivo de José em georgiano) da pobreza e mediocridade, fazendo-o ingressar primeiro numa escola teológica de Gori, e depois no seminário da capital Tiflis. Nesta altura, a biografia de José começa a embrulhar-se. Para os seus amigos e depois subordinados, José era sempre o primeiro da aula, o mais simpático, o mais empreendedor. Às vezes as lisonjas, fruto inegável do temor, são vergonhosas por ditirâmbicas. Em troca, os seus adversários políticos negam-lhe o pão e o sal. Notam-se o medo e o ódio. É impossível, pois, fazer um juízo sereno do escolar Soso.
De seminarista a revolucionário
Mas há um dado objectivo inegável: nunca chegou a graduar-se na Faculdade Teológica de Tiflis, frustando assim o sonho de sua mãe de tornar-se padre da Igreja georgiana ortodoxa. Parece certo, também, que foi expulso da Faculdade por ser rebelde. De qualquer forma, entrou prematuramente na luta política aos treze anos, apoiado numa voraz leitura de literatura revolucionária. Ainda no seminário tornou-se marxista. Em 1902 deu entrada na cadeia, preso pela primeira vez. Ao longo da sua vida revolucionária foi detido numerosas vezes. Em 1904 foi deportado para a Sibéria mas conseguiu fugir dali e regressar a Tiflis. Naquele ano separaram-se bolcheviques e mencheques. Estaline tornou-se bolchevique. Teve o seu primeiro encontro com Lenine em Tampere (Finlândia) em 1905, e em 1906-1907 participou nos congressos do partido em Estocolmo e Londres. Provoca boa impressão a Lenine no início, o qual o tornou membro do Comité Central e primeiro director do Pravda, que começou a sair a 5 de Maio de 1912. No ano seguinte adoptou o pseudómino de luta, Estaline.
A sua carreira à sombra de Lenine
Pode dizer-se que se tinha iniciado a sua lenta ascensão até ao cume do poder. Durante a revolução de 1917, Estaline não teve qualquer papel protagonista. Na polémica entre Lenine, partidário da acção revolucionária insurreccionista, e Zinoviev e Kamenev, opositores do insurreccionismo, Estaline decidiu-se por Lenine e chegou a fazer parte de um centro bolchevique de acção, que se juntou ao Comité Revolucionário presidido por Trotsky, criador do Exército Vermelho. A vitória bolchevique que valeu a Estaline ser nomeado comissário de nacionalidades, posto em que esteve cinco anos. A conduta de Estaline revela-se confusa durante a guerra civil que se seguiu à revolução bolchevique, se bem que o próprio Trotsky reconheça ter sido um soldado valente. Mas em Abril de 1922 dá um passo decisivo na sua carreira, já que no XI Congresso, o último presidido por Lenine, Estaline foi nomeado secretário-geral do partido. Não foi Estaline, mas Lenine, quem, contrariando os princípios da democracia socialista, fez bolchevique um partido único de sinal totalitário, sem qualquer liberdade de expressão e sem pluralismo partidário da classe trabalhadora. Este foi o aparelho herdado e não criado por Estaline no momento de entrar na luta para a sucessão de Lenine, quando este morreu em Janeiro de 1924. Apesar de ser essencialmente um político, Estaline escreveu o suficiente para encher 13 volumes com os seus discursos, informações, cartas, etc. Mesmo de forma teórica, abordou o leninismo, que definiu como a união do ímpeto russo com o activismo americano. Estaline defendeu a sua candidatura à sucessão de Lenine, apesar de ter sido deserdado pelo próprio Lenine. A confiança inicial que o levara a nomeá-lo secretário-geral do partido em 1922 tinha desaparecido. Por isso aconselhou no seu testamento que Estaline fosse substituído no secretariado geral porque, segundo as suas palavras, era um homem rude e com tendência a abusar do poder. Conhecia-o bem. Apesar de tudo, a estratégia para suceder a Lenine foi uma peça mestra e conspiração política. Com Lenine ainda vivo, em 1923, Estaline formou com Zinoviev e Kamenev, outros dois candidatos, um tiunvirato para destituir o herdeiro in pectore, Leon Trotsky. Pouco depois de morrer Lenine, Estaline minimizou o internacionalismo daquele a favor do socialismo de um país, e em 1925 afastou Trotsky da sucessão.
A prática do poder
Na XIV Conferência do Partido apareceu Estaline ao lado da direita do partido, Bujarin, Rikov e Tomsky, ao mesmo tempo que os seus antigos triúnviros, Zinoviev e Kamenev, se juntaram a Trotsky. Em 1928-1929 vem o terceiro acto: Zinoviev, Kamenev, Trotsky e os seus partidários são expulsos do partido. E o acto final: Bujarin, Rikov e Tomsky têm a mesma sorte. Desembaraçado assim de todos os estorvos, expulsa Trotsky da Rússia em 1929 e fica só no topo do poder. Já ninguém lhe faz sombra. Nesse mesmo ano empreendeu uma gigantesca empresa, contra todos os pareceres: a industrialização da Rússia. Propunha-se corrigir numa década os cinquenta ou mais anos de atraso que levava em relação aos países industrializados. Claro, os sacrifícios e esforços foram imensos. Só em 1930, vinte e cinco milhões de camponeses foram transferidos das suas terras para os centros industriais. Em poucos anos passou-se do arado de madeira às granjas altamente mecanizadas. Os camponeses opuseram uma forte resistência, mas foram vencidos. Milhões deles terminaram nos campos de trabalho. Simultaneamente, Estaline levou a cabo a eliminação fisíca de todos os possíveis adversários e aspirantes à sua sucessão. Foi o capítulo sinistro das grandes purgas, em que os melhores cérebros e as melhores carreiras desapareceram com a justiça célebre do fiscal Vichinsky. Toda uma grande primeira geração revolucionária foi levada ao cadafalso, após confessar as maiores iniquidades inventadas por Estaline.
A invasão do seu antigo aliado
Mas, graças à industrialização maciça e à disciplina imposta pelo terror, quando estalou a Segunda Grande Guerra, a URSS pôde aguentar o terrível assédio da Wehrmacht. Estaline portou-se com autêntica grandeza. Quando Moscovo parecia estar prestes a cair, ele aguentou no Kremlin sozinho, exigindo aos seus marechais tudo o que pudessem dar de si. O seu exemplo inspirou ao povo russo os maiores heroísmos. É certo que se Hitler não tivesse atacado, em Junho de 1941, talvez Estaline tivesse achado positiva a aliança de 1939 com o III Reich, mas teve que apoiar-se nas democracias e aproveitando-se delas no final, cobrando a perda monstruosa de mais de vinte milhões de mortos. Expandiu-se até onde o deixaram, para Ocidente, parando no Elba; e na Europa Central criou um conjunto de países satélites para proteger o seu império.
Morreu a 5 de Março de 1953 pelo mesmo motivo que Roosevelt: uma hemorragia cerebral. Tinha casado duas vezes, a primeira com Catalina Scanitzé e a segunda com Nadejna Allilouva. As duas acabaram por aborrecê-lo (Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).
O Homem de ferro
Na verdade, Estaline é muito simpático, disse James Byrnes, ex-secretário de Estado dos EUA, que o tinha conhecido em Ialta. Sobre o seu primeiro encontro com ele, escreveu Anthony Éden em Memoirs. Facing the dictators: «Estaline impressionou-me desde o primeiro momento, e a minha opinião sobre a sua capacidade não mudou. Transmitia a sua personalidade sem esforço e exagero. Tinha naturalmente boas maneiras, quiçá uma herança georgiana. Ainda que eu soubesse que era um homem sem piedade, respeitei a sua qualidade de inteligência, inclusive senti uma simpatia que nunca fui capaz de analisar totalmente».
A astúcia do asiático
Os biógrafos de Estaline passaram quase todos pela perplexidade de sentir a simpatia por ele e não poder explicá-la, talvez à excepção do seu mais encarniçado inimigo, Leon Trotsky. Este, na sua biografia apaixonada de Estaline, cita o velho revolucionário Leonidas Krassin como o primeiro a chamar a Estaline asiático, referindo-se a essa ligação de inteireza, sagacidade, astúcia e crueldade que se considerou característica dos homens de Estado da Ásia. Destas expressões, astúcia e crueldade, sobretudo a crueldade, é a que ficou como a mais definidora da personalidade de Estaline, que em russo se pode interpretar como homem de ferro. Nasceu José Vissarionovich Djugashvili na cidade de Gori (Geórgia, Transcaucásia), a 21 de Dezembro de 1879. Filho de um sapateiro que bebia demasiado e que lhe batia, e de uma amantíssima mãe que o adorava e era lavadeira. Foram a firmeza e o amor dela que tiraram Soso (diminutivo de José em georgiano) da pobreza e mediocridade, fazendo-o ingressar primeiro numa escola teológica de Gori, e depois no seminário da capital Tiflis. Nesta altura, a biografia de José começa a embrulhar-se. Para os seus amigos e depois subordinados, José era sempre o primeiro da aula, o mais simpático, o mais empreendedor. Às vezes as lisonjas, fruto inegável do temor, são vergonhosas por ditirâmbicas. Em troca, os seus adversários políticos negam-lhe o pão e o sal. Notam-se o medo e o ódio. É impossível, pois, fazer um juízo sereno do escolar Soso.
De seminarista a revolucionário
Mas há um dado objectivo inegável: nunca chegou a graduar-se na Faculdade Teológica de Tiflis, frustando assim o sonho de sua mãe de tornar-se padre da Igreja georgiana ortodoxa. Parece certo, também, que foi expulso da Faculdade por ser rebelde. De qualquer forma, entrou prematuramente na luta política aos treze anos, apoiado numa voraz leitura de literatura revolucionária. Ainda no seminário tornou-se marxista. Em 1902 deu entrada na cadeia, preso pela primeira vez. Ao longo da sua vida revolucionária foi detido numerosas vezes. Em 1904 foi deportado para a Sibéria mas conseguiu fugir dali e regressar a Tiflis. Naquele ano separaram-se bolcheviques e mencheques. Estaline tornou-se bolchevique. Teve o seu primeiro encontro com Lenine em Tampere (Finlândia) em 1905, e em 1906-1907 participou nos congressos do partido em Estocolmo e Londres. Provoca boa impressão a Lenine no início, o qual o tornou membro do Comité Central e primeiro director do Pravda, que começou a sair a 5 de Maio de 1912. No ano seguinte adoptou o pseudómino de luta, Estaline.
A sua carreira à sombra de Lenine
Pode dizer-se que se tinha iniciado a sua lenta ascensão até ao cume do poder. Durante a revolução de 1917, Estaline não teve qualquer papel protagonista. Na polémica entre Lenine, partidário da acção revolucionária insurreccionista, e Zinoviev e Kamenev, opositores do insurreccionismo, Estaline decidiu-se por Lenine e chegou a fazer parte de um centro bolchevique de acção, que se juntou ao Comité Revolucionário presidido por Trotsky, criador do Exército Vermelho. A vitória bolchevique que valeu a Estaline ser nomeado comissário de nacionalidades, posto em que esteve cinco anos. A conduta de Estaline revela-se confusa durante a guerra civil que se seguiu à revolução bolchevique, se bem que o próprio Trotsky reconheça ter sido um soldado valente. Mas em Abril de 1922 dá um passo decisivo na sua carreira, já que no XI Congresso, o último presidido por Lenine, Estaline foi nomeado secretário-geral do partido. Não foi Estaline, mas Lenine, quem, contrariando os princípios da democracia socialista, fez bolchevique um partido único de sinal totalitário, sem qualquer liberdade de expressão e sem pluralismo partidário da classe trabalhadora. Este foi o aparelho herdado e não criado por Estaline no momento de entrar na luta para a sucessão de Lenine, quando este morreu em Janeiro de 1924. Apesar de ser essencialmente um político, Estaline escreveu o suficiente para encher 13 volumes com os seus discursos, informações, cartas, etc. Mesmo de forma teórica, abordou o leninismo, que definiu como a união do ímpeto russo com o activismo americano. Estaline defendeu a sua candidatura à sucessão de Lenine, apesar de ter sido deserdado pelo próprio Lenine. A confiança inicial que o levara a nomeá-lo secretário-geral do partido em 1922 tinha desaparecido. Por isso aconselhou no seu testamento que Estaline fosse substituído no secretariado geral porque, segundo as suas palavras, era um homem rude e com tendência a abusar do poder. Conhecia-o bem. Apesar de tudo, a estratégia para suceder a Lenine foi uma peça mestra e conspiração política. Com Lenine ainda vivo, em 1923, Estaline formou com Zinoviev e Kamenev, outros dois candidatos, um tiunvirato para destituir o herdeiro in pectore, Leon Trotsky. Pouco depois de morrer Lenine, Estaline minimizou o internacionalismo daquele a favor do socialismo de um país, e em 1925 afastou Trotsky da sucessão.
A prática do poder
Na XIV Conferência do Partido apareceu Estaline ao lado da direita do partido, Bujarin, Rikov e Tomsky, ao mesmo tempo que os seus antigos triúnviros, Zinoviev e Kamenev, se juntaram a Trotsky. Em 1928-1929 vem o terceiro acto: Zinoviev, Kamenev, Trotsky e os seus partidários são expulsos do partido. E o acto final: Bujarin, Rikov e Tomsky têm a mesma sorte. Desembaraçado assim de todos os estorvos, expulsa Trotsky da Rússia em 1929 e fica só no topo do poder. Já ninguém lhe faz sombra. Nesse mesmo ano empreendeu uma gigantesca empresa, contra todos os pareceres: a industrialização da Rússia. Propunha-se corrigir numa década os cinquenta ou mais anos de atraso que levava em relação aos países industrializados. Claro, os sacrifícios e esforços foram imensos. Só em 1930, vinte e cinco milhões de camponeses foram transferidos das suas terras para os centros industriais. Em poucos anos passou-se do arado de madeira às granjas altamente mecanizadas. Os camponeses opuseram uma forte resistência, mas foram vencidos. Milhões deles terminaram nos campos de trabalho. Simultaneamente, Estaline levou a cabo a eliminação fisíca de todos os possíveis adversários e aspirantes à sua sucessão. Foi o capítulo sinistro das grandes purgas, em que os melhores cérebros e as melhores carreiras desapareceram com a justiça célebre do fiscal Vichinsky. Toda uma grande primeira geração revolucionária foi levada ao cadafalso, após confessar as maiores iniquidades inventadas por Estaline.
A invasão do seu antigo aliado
Mas, graças à industrialização maciça e à disciplina imposta pelo terror, quando estalou a Segunda Grande Guerra, a URSS pôde aguentar o terrível assédio da Wehrmacht. Estaline portou-se com autêntica grandeza. Quando Moscovo parecia estar prestes a cair, ele aguentou no Kremlin sozinho, exigindo aos seus marechais tudo o que pudessem dar de si. O seu exemplo inspirou ao povo russo os maiores heroísmos. É certo que se Hitler não tivesse atacado, em Junho de 1941, talvez Estaline tivesse achado positiva a aliança de 1939 com o III Reich, mas teve que apoiar-se nas democracias e aproveitando-se delas no final, cobrando a perda monstruosa de mais de vinte milhões de mortos. Expandiu-se até onde o deixaram, para Ocidente, parando no Elba; e na Europa Central criou um conjunto de países satélites para proteger o seu império.
Morreu a 5 de Março de 1953 pelo mesmo motivo que Roosevelt: uma hemorragia cerebral. Tinha casado duas vezes, a primeira com Catalina Scanitzé e a segunda com Nadejna Allilouva. As duas acabaram por aborrecê-lo (Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).