ALGUMAS NUVENS

Porém, sobre esta estrela rutilante algumas nuvens se vão acastelando.
Os guardiães do regime começam a acordar no meio daquilo que, para eles, é um verdadeiro pesadelo. Desde as 3.30 que, no Porto, o comandante da PSP local telefona para o Comando da GNR a informar sobre a tomada do Quartel General da Região Militar pelos revoltosos. A partir deste primeiro alarme, as comunicações sucedem-se por todo o País. Até que, pelas 5.00, Silva Pais, director-geral da PIDE, telefona a Marcelo Caetano:

- Senhor Presidente, a Revolução está na rua!

É então que se decide que o chefe do Governo se deve acolher ao quartel do Carmo.
É surpreendente que um regime ditatorial, com uma experiência de repressão de quase cinco décadas e em cujas estruturas os militares tinham um peso tão significativo, estivesse afinal tão mal preparado para resistir a um golpe militar. Em todo o caso, algumas medidas foram sendo tomadas. Assim, pouco depois das 6.00 chega ao Terreiro do Paço um pelotão de AML/Chaimites pertencente ao Regimento de Cavalaria 7, comandado por um alferes miliciano que às primeiras palavras de Salgueiro Maia adere ao Movimento. O mesmo acontece a dois pelotões de Lanceiros 2. No Ministério do Exército, o ministro e outros elementos do Governo estão reunidos de emergência para fazer face à rebelião. Ao verem que as forças que vão sendo enviadas para os proteger vão aderindo à Revolução, os valorosos cabos de guerra encontram uma única saída para a situação: abrem à picareta um buraco na parede e, passando para a biblioteca do Ministério da Marinha, dão às de vila-diogo!

No Atlântico, a fragata Almirante Gago Coutinho, integrada numa esquadra da NATO, participa no exercício «Dawn Patrol». Recebe ordens para abandonar as manobras, entrar no Tejo e abrir fogo sobre as forças insurrectas que ocupam o Terreiro do Paço. Cerca das 9.00 a silhueta esguia da fragata surge diante do centro de Lisboa. Uma bateria da Escola Prática de Artilharia, de Torres Novas, segue em Londres , ou seja no morro do Cristo-Rei de Almada, os movimentos do navio. Porém sabe-se que o elevado poder de fogo do vaso de guerra pode causar grandes estragos. Tigre ordena a Charlie Oito que proteja o pessoal e os blindados, metendo o que for possível sob as arcadas da praça. O comandante Vítor Crespo consegue que seja anulada a ordem e que a fragata acabe por ir fundear, cerca do meio-dia, em frente ao Alfeite.
Quando Salgueiro Maia e o posto de comando ainda estão a suspirar de alívio por ter passado a ameaça da Gago Coutinho, surgem cinco carros de combate M/47 de Cavalaria 7 seguidos de atiradores do Regimento de Infantaria 1, da Amadora, e alguns soldados da PM de Lanceiros 2. Um brigadeiro comanda a coluna. Salgueiro Maia, de braços erguidos, agitando um lenço branco, tenta o diálogo, mas o brigadeiro não aceita encontrar-se com ele a meio caminho. Dá ordem a um alferes que abra fogo. O jovem não obedece. Irado, o brigadeiro, repete a ordem directamente aos apontadores dos carros e aos atiradores de infantaria. Salgueiro Maia está a descoberto debaixo da mira das torres dos blindados e das espingardas dos atiradores. Nem as tripulações dos carros nem os outros soldados obedecem. Dando vozes de prisão a torto e a direito, disparando para o ar, o brigadeiro salta do carro e desaparece. Toda a coluna fica sob as ordens do capitão Maia.

RUMO AO CARMO

Antes do meio-dia, pelo posto de comando, Salgueiro Maia é informado de que Marcelo Caetano está no Carmo. Deixando forças a guardar os ministérios, avança para lá. Quando entra no Rossio, aparece-lhe pela frente uma coluna militar com uma companhia de atiradores que o Governo enviara para fazer frente aos revoltosos. O Capitão salta do seu jipe e vai perguntar ao comandante da coluna o que está ali a fazer. É-lhe respondido que tem ordens para o prender, mas que está com a Revolução. E também esta coluna é integrada nas forças que avançam para o Carmo.

As edições especiais dos jornais começam a circular. O Rossio, a Rua do Carmo, todo o percurso, está cheio de populares que vitoriam os soldados. Os cravos vermelhos começam a ser enfiados nos canos das G-3. É cerca de 12,30. Diz o capitão: «No Carmo, ao chegar houve desde senhoras a abrir portas e janelas para colocar os homens nas posições dominantes sobre o Quartel, até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o Hino Nacional. O ambiente que lá se viveu não tem descrição, pois foi de tal maneira belo que depois dele nada de mais digno pode acontecer na vida de uma pessoa».

Após a intimação para que a guarnição se renda e entregue Marcelo Caetano, não sendo obedecido, Maia recebe ordem do posto de comando para abrir fogo sobre o edifício. Porém, ele sabe que as granadas explosivas das autometralhadoras num largo apinhado de gente irão provocar centenas de mortes. Manda disparar armas automáticas para a parte superior do Quartel .

Entra uma primeira vez dentro do edifício, mas não consegue a rendição. Entra uma segunda vez e exige falar com o Presidente do Conselho. Numa antecâmara, Rui Patrício chora como uma criança e Moreira Baptista olha, ausente, o infinito. Deixemos que ele nos descreva o seu diálogo com Marcelo Caetano:

«Marcelo estava pálido, barba por fazer, gravata desapertada, mas digno.
Fiz-lhe a continência da praxe e disse-lhe que queria a rendição formal e imediata. Declarou-me já se ter rendido ao Sr. General Spínola, pelo telefone, e só aguardava a chegada deste para lhe transferir o Poder, para que o mesmo não caísse na rua! Estive para lhe dizer que estava lá fora o Poder no povo e que este estava na rua. Declarou esperar que o tratassem com a dignidade com que sempre tinha vivido e perguntou o que ia ser feito dele. Declarei que certamente seria tratado com dignidade, mas não sabia para onde iria, pois isso não me competia a mim decidir.

Perguntou a quem competia. Declarei que a «Óscar». Perguntou quem era «Óscar». Declarei ser a Comissão Coordenadora. Perguntou-me quem eram os chefes. Declarei serem vários oficiais, incluindo alguns generais, isto para que ele não ficasse mal impressionado por a Revolução ser feita essencialmente por capitães.
Perguntou-me ainda o que ia ser feito do Ultramar. Declarei-lhe que a solução para a guerra seria obtida por conversações. Toda esta conversa, tida a sós, teve por fundo o barulho do povo a cantar o Hino Nacional e o Está na hora».
Depois, pouco antes das 18.00, chega Spínola, que embora tenha dito a Marcelo nada ter a ver com o Movimento, rapidamente assume ares de «dono da guerra», no dizer de Salgueiro Maia. Às 19,30, Marcelo, Moreira Baptista e Rui Patrício entram numa viatura blindada que encostou a traseira à porta de armas do Quartel. Na confusão que se estabelece, com a multidão a gritar «assassinos!», e com os militares a proteger os homens do regime da ira popular, Henrique Tenreiro que deveria também seguir preso no transporte blindado, mistura-se com os populares e escapa-se, gozando mais umas horas de liberdade.

Após a rendição de Marcelo Caetano e a sua saída do Quartel, pode dizer-se que a Revolução estava ganha, embora, ali perto, na Rua António Maria Cardoso, os agentes da PIDE, encurralados como feras dentro da sua sede, disparassem das janelas, matando quatro pessoas. As únicas mortes verificadas durante o 25 de Abril (Fonte: Site Vidas Lusófonas).




Assim se fez uma Revolução!

3.25: ALEA JACTA EST: MÓNACO, MÉXICO E TÓQUIO SÃO OCUPADOS

Na Rua Rodrigo da Fonseca, em Lisboa, na esquina com a Sampaio Pina, perto do Liceu Maria Amália, há um café-restaurante chamado «Pisca-Pisca». É quase meia-noite do dia 24 de Abril de 1974. Uma noite fria e ventosa, apesar da Primavera. Um grupo de cinco clientes entra no estabelecimento onde as cadeiras estão já arrumadas sobre as mesas. Pedem cafés. Um deles pergunta a um empregado se vão fechar.

- Claro, diz o homem - amanhã é dia de trabalho!

- Se calhar não vai ser - responde o freguês. - E, olhe, no futuro até vai ser feriado!

O empregado olha surpreendido aqueles clientes tardios e com um sentido de humor tão estranho. Se reparasse que apesar dos casacos diferentes, todos vestem calças, meias e sapatos iguais, ainda ficaria mais surpreendido.
São jovens, pouco mais de trinta anos os mais velhos, e estão excitadamente alegres. Com alguns outros, estiveram até agora fechados nos seus automóveis desde as nove da noite, suportando o vento fresco do alto do Parque Eduardo VII. São o 10º Grupo de Comandos. Às 22.55, nos rádios dos carros, sintonizados para os Emissores Associados de Lisboa, a voz do locutor João Paulo Diniz anunciou o Paulo de Carvalho na canção do Eurofestival «E Depois do Adeus» e provocou-lhes esta excitação de felicidade. Preparam-se para assaltar o Rádio Clube Português, na Rua Sampaio Pina, e para o transformar no emissor do posto de comando do Movimento das Forças Armadas.
À meia-noite e vinte, na Rádio Renascença, a voz de Zeca Afonso irrompe com a «Grândola, Vila Morena». É o segundo sinal. O MFA está em marcha, já nada o pode travar.

Na EPA, Escola Prática de Artilharia, de Vendas Novas, o coronel que comanda a unidade é preso no seu gabinete por um grupo de capitães e tenentes. A central telefónica e a central rádio são ocupadas, as entradas do quartel colocadas sob controlo.

Na EPAM, Escola Prática de Administração Militar, no Lumiar, em Lisboa, os capitães e subalternos preparam-se, com as forças sob o seu comando, para se dirigirem para ali perto, para a Alameda das Linhas de Torres, e ocupar os estúdios da Radiotelevisão Portuguesa.

Do Batalhão de Caçadores 5, em Campolide, sai uma coluna apeada para reforçar o comando de assalto ao Rádio Clube Português, que os tardios clientes do «Pisca-Pisca» e os seus companheiros ocuparam já.

Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira (CTSC), pouco depois das 2.00 sai uma coluna motorizada para ocupar a Emissora Nacional, na Rua do Quelhas, em Lisboa.
Entre as 3.15 e as 3.25 da madrugada de 25, ao posto de comando, instalado no Regimento de Engenharia 1, na Pontinha, onde o major Otelo Saraiva de Carvalho coordena as operações, chegam sucessivamente as mensagens de que Mónaco, México e Tóquio foram tomados. São os nomes de código para a Radiotelevisão Portuguesa, para o Rádio Clube Português e para a Emissora Nacional. Os capitães sabem que a guerra da informação é fundamental ser ganha. Por isso, deram prioridade aos objectivos que lhes irão permitir dominar as comunicações e ter o controlo da informação.

CAI NOVA IORQUE

Tudo está a correr de acordo com a ordem de operações. Todas as forças vão atingindo os seus objectivos. A coluna do Regimento de Infantaria 10, de Aveiro, chega junto dos portões do Regimento de Artilharia Pesada, da Figueira da Foz, às 3.40. O comandante é preso. Aguarda-se a chegada das forças do CICA 2, também da Figueira, e do Regimento de Infantaria 14, de Viseu. É o agrupamento Norte que, depois de concentrado, se dirigirá aos seus alvos, controlando um segmento da fronteira com Espanha, ocupando o Forte de Peniche, a Pide/DGS do Porto... Outras forças correm para outros objectivos: quartéis da Legião Portuguesa, unidades da GNR e da PSP, as fronteiras mais próximas, as antenas de rádio... Tudo corre bem. No posto de comando, na Pontinha, apenas uma preocupação: o aeroporto da Portela ainda não foi tomado. A Escola Prática de Infantaria (EPI), de Mafra, deveria ali ter chegado à hora H (às 3.00) para tomar a torre de controlo, ocupar as pistas, interditando a descolagem e aterragem de aviões. Terá corrido mal alguma coisa? Finalmente, às 4,20 recebe-se uma comunicação:

- Nova Iorque, conquistada e controlada!

O aeroporto de Lisboa está em poder da Revolução!

AQUI POSTO DE COMANDO...

Às 4,26 o Rádio Clube Português emite o primeiro comunicado. Joaquim Furtado lê pausada e solenemente:
«Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas.
As Forças Armadas portuguesas apelam a todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas, nas quais se devem conservar com a máxima calma. Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal, para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas, no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os Portugueses, o que há que evitar a todo o custo. Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica, esperando a sua acorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração, que se deseja, sinceramente, desnecessária».
Segue-se A Portuguesa e, depois, marchas militares.

SINAL VERMELHO É PARA AVANÇAR

Entretanto, às 3.30, a porta de armas da Escola Prática de Cavalaria (EPC), de Santarém, fora atravessada por dez viaturas blindadas, doze de transporte, duas ambulâncias, um jipe e uma viatura civil de exploração à frente da coluna comandada pelo capitão Salgueiro Maia. Objectivo principal: Toledo ou, descodificando, o Terreiro do Paço e os seus ministérios.

As viaturas atravessam a lezíria sem impedimento. Chegam à auto-estrada e, procurando recuperar o atraso com que tinham saído da unidade, vêm a grande velocidade. Chegam à portagem da auto-estrada do Norte às 5.30, saem da 2ª Circular para o Campo Grande. Em duas horas, a coluna percorreu 90 quilómetros, o que é uma grande velocidade para as autometralhadoras. Salgueiro Maia ouve num dos rádios um carro-patrulha da PSP a informar o seu Comando da passagem da coluna, impressionado com o número de autometralhadoras. Mas passemos a palavra ao comandante Maia: «Enquanto ouvia estas informações, o jipe trava de repente e dou comigo parado no sinal vermelho do cruzamento da Cidade Universitária. Olho para o lado e vejo um autocarro da Carris também parado. Achei que era de mais parar a Revolução ao sinal vermelho, quando o que distinguia os carros do MFA era um triângulo vermelho no lado esquerdo das viaturas ou tapando a matrícula. Mando avançar tocando as sirenes das autometralhadoras EBR até chegar ao Terreiro do Paço».

Às 6.00 a coluna atinge finalmente Toledo, o coração do regime! Os carros de combate cercam os ministérios, a divisão da PSP aquartelada no Governo Civil, a Câmara Municipal, a Marconi e o Banco de Portugal. No centro da praça uma Chaimite e uma autometralhadora EBR, com o jipe do comandante, constituem o posto de comando e a força de intervenção de Salgueiro Maia. A primeira parte da sua missão é cumprida com êxito - chega ao seu objectivo antes de ser dado o alarme geral. Charlie Oito, ou seja, Salgueiro Maia, comunica a Tigre, ou seja, a Otelo:

- Ocupámos Toledo e controlamos Bruxelas e Viena (Banco de Portugal e Rádio Marconi)!

Entretanto, os comunicados vão-se sucedendo na rádio. Às 4.45, aconselha-se às forças militarizadas e policiais que recolham aos seus quartéis e aí aguardem as ordens que o MFA lhes transmita. Às 5.15 sobe o tom e adverte-se as forças repressivas do regime que serão severamente responsabilizadas caso enveredem pela luta armada. Às 5.45, num comunicado mais extenso reforça-se o que foi dito nos anteriores, e apela-se para o civismo de todos os portugueses no sentido de ser evitado qualquer confronto armado. Nos intervalos, cantam José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Francisco Fanhais, Luís Cília, José Mário Branco. Os Portugueses adormeceram cinzentos e escravos num país cinzento onde nada acontecia. A madrugada vai-se enchendo de sons e de cores. Os Portugueses acordam noutro país. Um país onde tudo acontece.

UMA ESTRELA DO MFA VITORIOSO

A partir da chegada da coluna de Salgueiro Maia ao centro físico do poder político, a acção deste capitão confunde-se com a história do próprio 25 de Abril. É óbvio que ao mesmo tempo, em Lisboa e no País, ocorrem factos, o MFA cumpre objectivos, a Revolução assume o controlo. Porém ali, entre o nascer do dia e o meio da tarde, verificam-se os acontecimentos centrais do 25 de Abril. Se Otelo é o estratega, o cérebro da operação, Salgueiro Maia é o seu braço mais importante. Diz Otelo («Alvorada em Abril»): Salgueiro Maia iria ser o comandante das forças do Movimento mais sujeito a situações de perigo e de tensão ao longo do dia 25. O número de homens que tem sob o seu comando e o potencial bélico de que dispõe permitem-lhe, todavia, encarar com certo optimismo as situações de responsabilidade que se lhe vão deparando e sendo resolvidas e que farão concentrar sobre ele e as forças da EPC as preocupações do posto de comando e as atenções e o carinho das massas populares que, a partir do Terreiro do Paço, não mais deixarão de o acompanhar e aos seus homens, guindando desde logo o jovem capitão às culminâncias de primeira estrela do MFA vitorioso».

2ª parte »»»





Transmissão radiofónica do primeiro comunicado do MFA (Movimento das Forças Armadas) emitido pelo Posto de Comando às 04:20 de 25 de Abril de 1974 - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Transmissão radiofónica de um comunicado do MFA emitido pelo Posto de Comando às 14:30 do dia 25 de Abril de 1974 - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Transmissão radiofónica de um novo comunicado do MFA emitido pelo Posto de Comando às 15:00 do dia 25 de Abril de 1974 - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Reportagem radiofónica (18h39 de 25 de Abril de 1974) sobre a entrada da chaimite Bula no Quartel do Carmo - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Reportagem radiofónica sobre a saída de Marcelo Caetano do Quartel do Carmo e entrega do poder ao General Spínola - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Proclamação radiofónica do MFA ao país - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)



Reportagem radiofónica sobre a libertação dos presos políticos da prisão de Caxias - Fonte: As Vozes do 25 de Abril (Compilação de Fernando Castelo Branco)








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9 de Julho
O Primeiro Ministro Palma Carlos pede a demissão do cargo por alegadamente não ter condicões políticas para governar numa clara alusão ao peso da influência do MFA. Com ele solidarizam-se alguns ministros do seu Gabinete entre eles Francisco Sá Carneiro

12 de Julho
Vasco Gonçalves é indigitado por Spínola para o cargo de Primeiro Ministro.

18 de Julho
Tomada de posse do IIº Governo Provisório, presidido por um homem do MFA, o General Vasco Gonçalves.

27 de Julho
Spínola reconhece o direito à independência das colónias africanas.

Julho / Agosto
Greves da MABOR, TAP, SOGANTAL e JORNAL DO COMÉRCIO.

8 de Agosto
Motim de ex-agentes da PIDE/DGS presos na Penitenciária de Lisboa.

28 de Agosto
Promulgação da Lei da Greve.

31 de Agosto
Por despacho conjunto do Ministério da Admnistração Interna e do Ministério do Equipamento Social é criado o SAAL vocacionado para intervir na área da habitação social. No processo SAAL colaboraram então alguns dos arquitectos portugueses hoje internacionalmente reconhecidos, como Siza Vieira e Alves Costa. Ficaram célebres as áreas de intervenção do Barredo no Porto, as de Setúbal e de Évora.

6 de Setembro
Acordos de Lusaka entre a FRELIMO e o Governo Português.

7 de Setembro
Tentativa de tomada de poder pelas forças neo-colonialistas em Lourenço Marques.

9 de Setembro
O Governo Português reconhece a Guiné-Bissau como país independente.

10 de Setembro
Apelo de Spínola à chamada Maioria Silenciosa, numa tentativa de procurar o apoio dos sectores mais conservadores da sociedade portuguesa. Em resposta a este apelo surgem na imprensa, dias mais tarde, notícias que anunciam para dia 28 uma manifestação de apoio a Spínola.

26 de Setembro
António de Spínola e Vasco Gonçalves assistem a uma corrida de toiros no Campo Pequeno. Vasco Gonçalves é apupado por manifestantes conotados com a Maioria Silenciosa.

28 de Setembro
Em resposta à anunciada manifestação da Maioria Silenciosa são organizadas barricadas populares junto às saídas de Lisboa e um pouco por todo o país. No final dessa noite, os militares substituem os civis nas barricadas. Mais de uma centena de pessoas, entre figuras gratas ao regime deposto, quadros da Legião Portuguesa e participantes activos da manifestação abortada da Maioria Silenciosa, são detidas por Forças Militares.

30 de Setembro
Apresentação da demissão do Presidente da República General António de Spínola e nomeação do General Costa Gomes.

Tomada de Posse do III Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

6 de Outubro
"Um dia de trabalho para a Nação" proposto pelo Primeiro Ministro. Um domingo é transformado em dia útil de trabalho oferecido gratuitamente pelos trabalhadores ao país. A adesão é significativa e o resultado financeiro desta campanha será dias mais tarde estimado pelas entidades oficiais competentes em cerca de 13000 contos.

27 de Outubro
O Governo anuncia as Campanhas de Dinamização Cultural, empreendidas pela 5ª Divisão do EMGFA com o objectivo de "cumprir integralmente o programa do MFA e colocar as Forças Armadas ao serviço de um projecto de desenvolvimento do Povo Português".

11 de Novembro
O Ministério da Educação e Cultura institui o Serviço Cívico Estudantil, ano vestibular antes da entrada definitiva no ensino superior e que mobilizou milhares estudantes para brigadas de alfabetização e de educação sanitária junto das populações.

7 de Dezembro
Por decisão do Governo é decidido o pagamento do 13º mês aos pensionistas do Estado.

9 de Dezembro
Tem início o renceamento eleitoral com vista à realização das primeiras eleições em liberdade.

13 de Dezembro
Os Estados Unidos concedem ao governo português um importante empréstimo financeiro no âmbito de um Plano de Ajuda Económica a Portugal.




Cronologia do ano de 1974

22 de Fevereiro
Publicação do livro Portugal e o Futuro do General António de Spínola, em que este defende que a solução para a guerra colonial deverá ser política e não militar.

5 de Março
Nova reunião da Comissão Coordenadora do MFA. É lido e decidido pôr a circular no seio do Movimento dos Capitães o primeiro documento do Movimento contra o regime e a Guerra Colonial: intitulava-se "Os Militares, as Forças Armadas e a Nação" e foi elaborado por Melo Antunes

14 de Março
O Governo demite os Generais Spínola e Costa Gomes dos cargos de Chefe e Vice-Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, alegando falta de comparência na cerimónia de solidariedade com o regime, levada a cabo pelos três ramos das Forças Armadas. Essa cerimónia de solidariedade será ironicamente baptizada nos meios ligados à oposição ao regime como "Brigada do Reumático" nome pelo qual ainda hoje é muitas vezes referenciada. A demissão dos dois generais virá a ser determinante na aceleração das operações militares contra o regime.

16 de Março
Tentativa de golpe militar contra o regime. Só o Regimento de Infantaria 5 das Caldas da Rainha marcha sobre Lisboa. O golpe falhou. São presos cerca de 200 militares.

24 de Março
Última reunião clandestina da Comissão Coordenadora do MFA, na qual foi decidido o derrube do regime e o golpe militar.

23 de Abril
Otelo Saraiva de Carvalho entrega, a capitães mensageiros, sobrescritos fechados contendo as instruções para as acções a desencadear na noite de 24 para 25 e um exemplar do jornal a Época, como identificação, destinada às unidades participantes.

24 de Abril
O jornal República, em breve notícia, chama a atenção dos seus leitores para a emissão do programa Limite dessa noite, na Rádio Renascença .

24 de Abril - 22:00 horas
Otelo Saraiva de Carvalho e outros cinco oficiais ligados ao MFA já estão no Regimento de Engenharia 1 na Pontinha onde, desde a véspera, fora clandestinamente preparado o Posto de Comando do Movimento. Será ele a comandar as operações militares contra o regime.

24 de Abril - 22:55 horas
A transmissão da canção " E depois do Adeus ", interpretada por Paulo de Carvalho, aos microfones dos Emissores Associados de Lisboa, marca o ínicio das operações militares contra o regime.

25 de Abril - 00:20 horas
A transmissão da canção " Grândola Vila Morena " de José Afonso, no programa Limite da Rádio Renancença, é a senha escolhida pelo MFA, como sinal confirmativo de que as operações militares estão em marcha e são irreversíveis.

25 de Abril - Das 00:30 às 16:00 horas
Ocupação de pontos estratégicos considerados fundamentais ( RTP, Emissora Nacional, Rádio Clube Português, Aeroporto de Lisboa, Quartel General, Estado Maior do Exército, Ministério do Exército, Banco de Portugal e Marconi).

Primeiro Comunicado do MFA difundido pelo Rádio Clube Português

Forças da Escola Prática de Cavalaria de Santarém estacionam no Terreiro do Paço.

As forças paramilitares leais ao regime começam a render-se: a Legião Portuguesa é a primeira.

Desde a primeira hora o povo vem para a rua para expressar a sua alegria.

Início do cerco ao Quartel do Carmo, chefiado por Salgueiro Maia, entre milhares de pessoas que apoiavam os militares revoltosos. Dentro do Quartel estão refugiados Marcelo Caetano e mais dois ministros do seu Gabinete.

25 de Abril - 16:30 horas
Expirado o prazo inicial para a rendição anunciado por megafone pelo Capitão Salgueiro Maia, e após algumas diligências feitas por mediadores civis, Marcelo Caetano faz saber que está disposto a render-se e pede a comparência no Quartel do Carmo de um oficial do MFA de patente não inferior a coronel.

25 de Abril - 17:45 horas
Spínola, mandatado pelo MFA entra no Quartel do Carmo para negociar a rendição do Governo.

O Quartel do Carmo hasteia a bandeira branca.

25 de Abril - 19:30 horas
Rendição de Marcelo Caetano. A chaimite BULA entra no Quartel para retirar o ex-presidente do Conselho e os ministros que o acompanhavam, levando-os, à guarda do MFA para o Posto de Comando do Movimento no Quartel da Pontinha.

25 de Abril - 20:00 horas
Disparos de elementos da PIDE/DGS sobre manifestantes que começavam a afluir à sede daquela polícia na Rua António Maria Cardoso, fazem quatro mortos e 45 feridos.

26 de Abril
A PIDE/DGS rende-se após conversa telefónica entre o General Spínola e Silva Pais director daquela corporação.

Apresentação da Junta de Salvação Nacional ao país, perante as câmaras da RTP.

Por ordem do MFA, Marcelo Caetano, Américo Tomás, César Moreira Baptista e outros elementos afectos ao antigo regime, são enviados para a Madeira.

O General Spínola é designado Presidente da República.

Libertação dos presos políticos de Caxias e Peniche.

27 de Abril
Apresentação do Programa do Movimento das Forças Armadas.

29 a 30 de Abril
Regresso dos líderes do Partido Socialista (Mário Soares) e do Partido Comunista Português (Álvaro Cunhal).

1 de Maio
Manifestação do 1º de Maio, em Lisboa, congrega cerca de 500.000 pessoas. Outras grandes manifestações decorreram nas principais cidades do país.

4 de Maio
O MRPP organiza a primeira manifestação de boicote ao embarque de soldados para as colónias. A Junta de Salvação Nacional previra a necessidade de envio de alguns batalhões de militares para substituirem a tropa portuguesa ainda em território africano e cujo período de mobilização já terminara. Pensava-se também que seria importante manter as Forças Armadas Portuguesas em África até final das negociações com os Movimentos de Libertação Africanos, com vista à independência dos territórios.

16 de Maio
Tomada de posse do Iº Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos.

Do I Governo fazem parte, entre outros, Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro.

20 de Maio
Américo Tomás e Marcelo Caetano, com o conhecimento da JSN mas não do Governo, partem para o exílio no Brasil.

25 de Maio
Início das conversações com o PAIGC.

26 de Maio
É fixado o primeiro Salário Mínimo Nacional em 3300$00.

Maio / Junho
Grandes conflitos laborais e lutas de trabalhadores começam a surgir em algumas das grandes empresas portuguesas LISNAVE, TIMEX, CTT.

Inicia-se um grande movimento popular de ocupações de casas desabitadas que vai prolongar-se por vários meses. A Junta de Salvação Nacional legaliza, em 19 de Maio, as ocupações verificadas e proíbe novas ocupações.

6 de Junho
Conversações preliminares com a FRELIMO, em Lusaka, com vista à independência de Moçambique.

8 de Julho
É criado o COPCON, chefiado por Otelo Saraiva de Carvalho

2ª parte »»»



































Reportagens Radiofónicas da Revolução de 25 de Abril de 1974 »»»




Benito Mussolini [1883-1945]

Mussolini nasceu em 1883 e começou por se assumir como militante socialista para, depois da Primeira Grande Guerra, se converter a teses de extrema-direita e criar o Partido Fascista Italiano (1921), portador de uma ideologia autoritária e anti-parlamentar. O seu discurso, em que predominava o elogio da violência como forma de actuação decisiva e privilegiada na política, teve tradução concreta na actividade da sua milícia própria (os Fasci Italiani di Combattimento, que dão aliás origem ao nome do partido - fasci significa feixe, tendo o feixe sido um símbolo do poder dos cônsules romanos). É efectivamente no seguimento de uma política agressiva e à margem dos princípios e métodos parlamentares que alcança o poder, depois de uma Marcha sobre Roma (1922) que leva o rei a encarregá-lo de formar governo.

Dirige o país durante algum tempo em difícil convivência com o Parlamento, mas assume plenos poderes logo em 1922 e proclama a ditadura três anos mais tarde. O regime que a partir desse momento implanta e fortalece é uma ditadura de partido único, apoiada em fortes milícias próprias, onde o poder parlamentar é substituído por um Conselho Fascista com atribuições meramente consultivas, os sindicatos são dominados por um regime corporativo e os partidos políticos são proibidos. A sua popularidade, granjeada por meio de um discurso populista e demagógico e a imposição da ordem nas ruas, dá-lhe uma certa estabilidade, apesar das dificuldades económicas e sociais que o país experimenta.

Na política externa, após uma campanha de conquista contra a Abissínia, pela qual tenta reconstituir um império africano, alinha com a Alemanha hitleriana e o Japão imperial, apesar de saber que a Itália não se encontra em condições de suportar novo conflito; vê-se arrastado, como parceiro menor, para a Guerra Mundial (a segunda do século XX) que estala em 1939 e que irá pôr a ferro e fogo a Europa, a África e a Ásia, terminando com a derrota. Quando esta se aproxima, em plena contra-ofensiva aliada, os militares lançam um golpe de estado que depõe Mussolini, que é encarcerado e algum tempo depois libertado por pára-quedistas alemães. Enquanto os militares colocam a Itália ao lado dos Aliados e os alemães ocupam larga extensão da península italiana, Mussolini tenta manter no norte da Itália uma República Social (a República de Saló, do nome do local onde se instalou), que se aguenta algum tempo artificialmente, de acordo com as exigências da política de guerra da Alemanha. Mussolini não tem aí qualquer pode efectivo, acabando por se ver forçado a tentar a fuga, em condições desesperadas, perante o avanço dos Aliados e dos movimentos de resistência. Serão precisamente resistentes italianos que, em Maio de 1945, pouco antes do suicídio do seu aliado Adolf Hitler, o irão capturar e fuzilar sumariamente, vindo o seu cadáver a ser exposto publicamente e a ser alvo da ira popular (Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).




Franklin Delano Roosevelt [1882-1945]

Nascido em Hyde Park, no estado de Nova Iorque, no seio de uma família abastada, Roosevelt foi educado na Europa e nas universidades de Harvard e Columbia, tornando-se jurista. Em 1910 foi eleito para o senado do estado de Nova Iorque. Ocupou o cargo de subsecretário da marinha nas administrações do presidente Wilson nos anos de 1913-21, e trabalhou muito no sentido de aumentar a eficiência da marinha durante a Primeira Grande Guerra. Sofreu de poliomielite a partir de 1921, mas regressou à política, tendo sido eleito para o cargo de governador do estado de Nova Iorque em 1929. Quando foi eleito presidente em 1933, Roosevelt apontou para um novo espírito de esperança através do seu hábil programa de rádio Conversas à Lareira, e do seu discurso de tomada de posse: A única coisa que temos de temer é o próprio medo. Rodeando-se de uma companhia de cérebros de peritos, lançou de imediato o seu programa de reformas. Os bancos reabriram, o crédito federal foi restaurado, o padrão-ouro foi abandonado e o dólar desvalorizado. Durante os primeiros cem dias da sua administração, pôs em prática uma importante legislação de modo a facilitar a retoma industrial e agrícola. Em 1935 introduziu a lei das acções de empresas de utilidade pública, dirigida contra os abusos das companhias de accionistas maioritários e a lei da segurança social, providenciando seguros e pensões de invalidez e de reforma. A eleição presidencial de 1936 foi inteiramente ganha com base nas políticas do chamado novo contrato (new deal). Durante 1935-36 Roosevelt envolveu-se num conflito sobre a formação do Supremo Tribunal, seguindo-se a anulação de grande parte das medidas do novo contrato, consideradas inconstitucionais. Em 1938 introduziu medidas de assistência agrícola e melhoria das condições de trabalho. No que respeita à sua política externa, Roosevelt empenhou-se em utilizar a sua influência para diminuir a agressão no Eixo, e estabelecer relações de boa vizinhança com outros países do continente americano. Pouco depois de rebentar a guerra, lançou um vasto programa de rearmamento, introduziu o recrutamento, e providenciou o fornecimento de armamento aos Aliados. Apesar de uma oposição fortemente isolacionista, quebrou um precedente de longo termo ao concorrer para um terceiro mandato, sendo reeleito em 1940. Anunciou que os EUA se tornariam no arsenal da democracia. Roosevelt estava desejoso que os EUA entrassem na guerra pelo lado dos Aliados. Para além da repulsa que tinha por Hitler, pretendia estabelecer os EUA como uma potência mundial, preenchendo o vazio que resultaria da desagregação do império britânico. Foi limitado pelas forças isolacionistas no Congresso, e alguns argumentaram que ele tinha recebido de bom grado o ataque japonês a Pearl Harbor.

A opinião pública era contra o envolvimento na guerra. Alegadamente, Roosevelt e os chefes militares não deram a conhecer, deliberadamente, os relatórios secretos recebidos de vários serviços de informação e que afirmavam estar iminente um ataque dos japoneses à base naval de Pearl Harbor, no Havai. As mortes ocorridas em Pearl Harbor no dia 7 de Dezembro de 1941 chocaram a opinião pública, e os EUA puderam então entrar na guerra. A partir deste ponto, Roosevelt chamou a si o comando da guerra. Participou nas conferências de Washington, em 1942, e de Casablanca em 1943, para planear o assalto ao Mediterrâneo; nas conferências de Quebeque, Cairo e Teerão, em 1943; e de Ialta em 1945, onde se realizaram os preparativos finais para a vitória dos aliados. Foi reeleito num quarto mandato em 1944, mas faleceu em 1945(Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).




Winston Churchill [1874-1965]

Nasceu em Blenheim Palace e era o filho mais velho de Lord Randolph Churchill. Durante a guerra dos boer foi correspondente de guerra e escapou de ser feito prisioneiro em Pretória de forma surpreendente. Em 1900 foi eleito membro conservador do parlamento pelo círculo de Oldham, mas dada a sua discordância com a política de reforma tarifária preconizada por Chamberlain, transferiu-se para o partido liberal. Asquith nomeou-o presidente da Câmara do Comércio em 1908, introduzindo legislação que estabelecia a possibilidade de transferência dos trabalhadores. Tornou-se secretário de estado do interior em 1910 e, em 1911, Asquith nomeou-o chefe do almirantado. Entre 1915 e 1916 esteve nas trincheiras em França (Primeira Grande Guerra), mas depois reassumiu os seus deveres parlamentares e, no governo de Lloyd George (1917), foi ministro das munições, altura em que se debruçou sobre o desenvolvimento do tanque de guerra. Depois do armistício foi secretário de estado da guerra (1918-1921) e mais tarde, como secretário de estado para as colónias, desempenhou um papel fundamental no estabelecimento do Estado Livre Irlandês.

Entre 1922 e 1924 Churchill esteve ausente do parlamento. Abandonou os liberais em 1923, tendo regressado pelo círculo de Epping, mas já como conservador, em 1924. Baldwin tornou-o ministro das finanças e ele fez com que o Reino Unido regressasse ao valor real do ouro, tendo também sido primordial na derrota da greve geral de 1926. Entre 1929 e 1939, não ocupou qualquer cargo governamental por discordar da política conservadora sobre a Índia, o rearmamento e, em particular, da política de apaziguamento de Chamberlain.

No primeiro dia da Segunda Grande Guerra regressou ao seu velho posto no almirantado. Em Maio de 1940 foi chamado a ocupar a liderança de um governo multi-partidário e, na Câmara dos Comuns, fez o seu célebre discurso sobre sangue, suor e lágrimas. Mantinha uma boa relação com o presidente americano Roosevelt e, em Agosto de 1941, concluiu com ele o acordo do Atlântico. Viajou até Washington, Casablanca, Cairo, Moscovo e Teerão para conhecer os outros líderes do esforço de guerra Aliado. Encontrou-se com Estaline e Roosevelt na Crimeia, em Fevereiro de 1945, e acordou com eles os últimos planos para a vitória. A 8 de Maio anunciou a rendição incondicional da Alemanha.

A coligação foi dissolvida a 23 de Maio de 1945 e Churchill formou um governo de transição composto maioritariamente por conservadores.

Derrotado nas eleições gerais de Julho, tornou-se líder da oposição até às eleições de Outubro de 1951, altura em que assumiu de novo o poder, como primeiro-ministro. Demitiu-se em Abril de 1955 por razões de saúde. Desde 1922 que a sua casa de Chartwell, no Kent, é um museu. Os seus livros incluem uma história em seis volumes da Segunda Grande Guerra (1948-1954) e uma História dos Povos de Língua Inglesa em quatro volumes (1956-1958). Para além disso, Churchill também recebeu o Prémio Nobel em 1953 (Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).




José Estaline - Josef Vissarionovich Djugashvili [1879-1953]

O Homem de ferro

Na verdade, Estaline é muito simpático, disse James Byrnes, ex-secretário de Estado dos EUA, que o tinha conhecido em Ialta. Sobre o seu primeiro encontro com ele, escreveu Anthony Éden em Memoirs. Facing the dictators: «Estaline impressionou-me desde o primeiro momento, e a minha opinião sobre a sua capacidade não mudou. Transmitia a sua personalidade sem esforço e exagero. Tinha naturalmente boas maneiras, quiçá uma herança georgiana. Ainda que eu soubesse que era um homem sem piedade, respeitei a sua qualidade de inteligência, inclusive senti uma simpatia que nunca fui capaz de analisar totalmente».

A astúcia do asiático

Os biógrafos de Estaline passaram quase todos pela perplexidade de sentir a simpatia por ele e não poder explicá-la, talvez à excepção do seu mais encarniçado inimigo, Leon Trotsky. Este, na sua biografia apaixonada de Estaline, cita o velho revolucionário Leonidas Krassin como o primeiro a chamar a Estaline asiático, referindo-se a essa ligação de inteireza, sagacidade, astúcia e crueldade que se considerou característica dos homens de Estado da Ásia. Destas expressões, astúcia e crueldade, sobretudo a crueldade, é a que ficou como a mais definidora da personalidade de Estaline, que em russo se pode interpretar como homem de ferro. Nasceu José Vissarionovich Djugashvili na cidade de Gori (Geórgia, Transcaucásia), a 21 de Dezembro de 1879. Filho de um sapateiro que bebia demasiado e que lhe batia, e de uma amantíssima mãe que o adorava e era lavadeira. Foram a firmeza e o amor dela que tiraram Soso (diminutivo de José em georgiano) da pobreza e mediocridade, fazendo-o ingressar primeiro numa escola teológica de Gori, e depois no seminário da capital Tiflis. Nesta altura, a biografia de José começa a embrulhar-se. Para os seus amigos e depois subordinados, José era sempre o primeiro da aula, o mais simpático, o mais empreendedor. Às vezes as lisonjas, fruto inegável do temor, são vergonhosas por ditirâmbicas. Em troca, os seus adversários políticos negam-lhe o pão e o sal. Notam-se o medo e o ódio. É impossível, pois, fazer um juízo sereno do escolar Soso.

De seminarista a revolucionário

Mas há um dado objectivo inegável: nunca chegou a graduar-se na Faculdade Teológica de Tiflis, frustando assim o sonho de sua mãe de tornar-se padre da Igreja georgiana ortodoxa. Parece certo, também, que foi expulso da Faculdade por ser rebelde. De qualquer forma, entrou prematuramente na luta política aos treze anos, apoiado numa voraz leitura de literatura revolucionária. Ainda no seminário tornou-se marxista. Em 1902 deu entrada na cadeia, preso pela primeira vez. Ao longo da sua vida revolucionária foi detido numerosas vezes. Em 1904 foi deportado para a Sibéria mas conseguiu fugir dali e regressar a Tiflis. Naquele ano separaram-se bolcheviques e mencheques. Estaline tornou-se bolchevique. Teve o seu primeiro encontro com Lenine em Tampere (Finlândia) em 1905, e em 1906-1907 participou nos congressos do partido em Estocolmo e Londres. Provoca boa impressão a Lenine no início, o qual o tornou membro do Comité Central e primeiro director do Pravda, que começou a sair a 5 de Maio de 1912. No ano seguinte adoptou o pseudómino de luta, Estaline.

A sua carreira à sombra de Lenine

Pode dizer-se que se tinha iniciado a sua lenta ascensão até ao cume do poder. Durante a revolução de 1917, Estaline não teve qualquer papel protagonista. Na polémica entre Lenine, partidário da acção revolucionária insurreccionista, e Zinoviev e Kamenev, opositores do insurreccionismo, Estaline decidiu-se por Lenine e chegou a fazer parte de um centro bolchevique de acção, que se juntou ao Comité Revolucionário presidido por Trotsky, criador do Exército Vermelho. A vitória bolchevique que valeu a Estaline ser nomeado comissário de nacionalidades, posto em que esteve cinco anos. A conduta de Estaline revela-se confusa durante a guerra civil que se seguiu à revolução bolchevique, se bem que o próprio Trotsky reconheça ter sido um soldado valente. Mas em Abril de 1922 dá um passo decisivo na sua carreira, já que no XI Congresso, o último presidido por Lenine, Estaline foi nomeado secretário-geral do partido. Não foi Estaline, mas Lenine, quem, contrariando os princípios da democracia socialista, fez bolchevique um partido único de sinal totalitário, sem qualquer liberdade de expressão e sem pluralismo partidário da classe trabalhadora. Este foi o aparelho herdado e não criado por Estaline no momento de entrar na luta para a sucessão de Lenine, quando este morreu em Janeiro de 1924. Apesar de ser essencialmente um político, Estaline escreveu o suficiente para encher 13 volumes com os seus discursos, informações, cartas, etc. Mesmo de forma teórica, abordou o leninismo, que definiu como a união do ímpeto russo com o activismo americano. Estaline defendeu a sua candidatura à sucessão de Lenine, apesar de ter sido deserdado pelo próprio Lenine. A confiança inicial que o levara a nomeá-lo secretário-geral do partido em 1922 tinha desaparecido. Por isso aconselhou no seu testamento que Estaline fosse substituído no secretariado geral porque, segundo as suas palavras, era um homem rude e com tendência a abusar do poder. Conhecia-o bem. Apesar de tudo, a estratégia para suceder a Lenine foi uma peça mestra e conspiração política. Com Lenine ainda vivo, em 1923, Estaline formou com Zinoviev e Kamenev, outros dois candidatos, um tiunvirato para destituir o herdeiro in pectore, Leon Trotsky. Pouco depois de morrer Lenine, Estaline minimizou o internacionalismo daquele a favor do socialismo de um país, e em 1925 afastou Trotsky da sucessão.

A prática do poder

Na XIV Conferência do Partido apareceu Estaline ao lado da direita do partido, Bujarin, Rikov e Tomsky, ao mesmo tempo que os seus antigos triúnviros, Zinoviev e Kamenev, se juntaram a Trotsky. Em 1928-1929 vem o terceiro acto: Zinoviev, Kamenev, Trotsky e os seus partidários são expulsos do partido. E o acto final: Bujarin, Rikov e Tomsky têm a mesma sorte. Desembaraçado assim de todos os estorvos, expulsa Trotsky da Rússia em 1929 e fica só no topo do poder. Já ninguém lhe faz sombra. Nesse mesmo ano empreendeu uma gigantesca empresa, contra todos os pareceres: a industrialização da Rússia. Propunha-se corrigir numa década os cinquenta ou mais anos de atraso que levava em relação aos países industrializados. Claro, os sacrifícios e esforços foram imensos. Só em 1930, vinte e cinco milhões de camponeses foram transferidos das suas terras para os centros industriais. Em poucos anos passou-se do arado de madeira às granjas altamente mecanizadas. Os camponeses opuseram uma forte resistência, mas foram vencidos. Milhões deles terminaram nos campos de trabalho. Simultaneamente, Estaline levou a cabo a eliminação fisíca de todos os possíveis adversários e aspirantes à sua sucessão. Foi o capítulo sinistro das grandes purgas, em que os melhores cérebros e as melhores carreiras desapareceram com a justiça célebre do fiscal Vichinsky. Toda uma grande primeira geração revolucionária foi levada ao cadafalso, após confessar as maiores iniquidades inventadas por Estaline.

A invasão do seu antigo aliado

Mas, graças à industrialização maciça e à disciplina imposta pelo terror, quando estalou a Segunda Grande Guerra, a URSS pôde aguentar o terrível assédio da Wehrmacht. Estaline portou-se com autêntica grandeza. Quando Moscovo parecia estar prestes a cair, ele aguentou no Kremlin sozinho, exigindo aos seus marechais tudo o que pudessem dar de si. O seu exemplo inspirou ao povo russo os maiores heroísmos. É certo que se Hitler não tivesse atacado, em Junho de 1941, talvez Estaline tivesse achado positiva a aliança de 1939 com o III Reich, mas teve que apoiar-se nas democracias e aproveitando-se delas no final, cobrando a perda monstruosa de mais de vinte milhões de mortos. Expandiu-se até onde o deixaram, para Ocidente, parando no Elba; e na Europa Central criou um conjunto de países satélites para proteger o seu império.

Morreu a 5 de Março de 1953 pelo mesmo motivo que Roosevelt: uma hemorragia cerebral. Tinha casado duas vezes, a primeira com Catalina Scanitzé e a segunda com Nadejna Allilouva. As duas acabaram por aborrecê-lo (Fonte: Site Segunda Guerra Mundial).




Reconstruindo o poder alemão

Tendo assegurado a sua posição na Alemanha, Hitler deu início à sua longa campanha para restaurar o poder alemão na Europa, recorrendo para tal a um cada vez maior número de graves quebras dos acordos e ignorando abertamente a opinião dos outros países europeus. Iniciou um intenso programa de rearmamento, organizado secretamente, a princípio, e depois de forma cada vez mais flagrante. Por exemplo, a Alemanha não estava autorizada a possuir uma força aérea mas, sob a desculpa de se tratar de uma linha aérea civil, Hermann Goering construiu absolutamente do nada a Luftwaffe, anunciando oficialmente a sua existência em Abril de 1935.

Hitler voltou depois a sua atenção para as cláusulas territoriais dos diversos tratados que a Alemanha se tinha comprometido a respeitar, começando pelo plebiscito da região do Saar, em Janeiro de 1935. O resultado, influenciado em parte pelo terrorismo, foi uma esmagadora maioria a favor do regresso à Alemanha, tendo Hitler usado estes resultados como um incentivo para denunciar as cláusulas militares do tratado de Versalhes (Março de 1935) e para introduzir o serviço militar obrigatório na Alemanha. Um ano mais tarde arriscou o envio das suas tropas até à zona desmilitarizada do Reno, desafiando abertamente o acordo de Locarno de 1925, o qual, segundo ele, havia sido ultrapassado pela aliança franco-soviética. A remilitarização da margem direita do Reno foi seguida por dois anos de activas preparações militares alemãs, combinadas com uma reformulação total da economia, de modo a tornar a Alemanha auto-suficiente.

Quando estalou a guerra civil de Espanha, em Julho de 1936, Hitler aproveitou a oportunidade para testar os seus recém-formados exército e força aérea ao lado das forças de Franco. Outros acontecimentos no estrangeiro durante os anos de 1936-1937, tais como a incapacidade da Sociedade das Nações em verificar a aventura abissínia de Mussolini, aumentaram a tensão na Europa e muito contribuíram para o fortalecimento da posição de Hitler. Mussolini era um aliado natural e os dois países tornaram-se aliados com o Eixo Roma-Berlim de Outubro de 1936.

Expansionismo no estrangeiro

A partir do final de 1937, Hitler optou por uma política estrangeira agressivamente expansionista que, durante dois anos, apenas lhe trouxe sucessos espectaculares. Em Março de 1938 anexou a Áustria, manipulando uma súbita crise nas relações austríaco-alemãs, enviando o exército alemão para o outro lado da fronteira e declarando o Anschluss, a incorporação da Áustria no Reich. De seguida começou a implantar a campanha para a libertação dos Sudetas, uma área de etnia alemã dentro da Checoslováquia - tal atitude não passava de um ataque a um estado soberano unido por tratado às potências ocidentais e por laços étnicos à Rússia. Contudo, Hitler compreendia perfeitamente as realidades inerentes à situação política imediata e sabia bem de mais que o ocidente não estava preparado para lutar. O acordo de Munique de Agosto de 1938 entregou-lhe os Sudetas em troca da promessa de que não exigiria mais territórios - a mesma promessa que fizera aquando da anexação da Áustria. Logo de seguida, durante o ano de 1939, apoderou-se dos restantes territórios da Checoslováquia e, ao mesmo tempo, anunciou a anexação de Memel, violando directamente o tratado de Versalhes. Por essa altura, aos olhos do alemão médio, Hitler parecia ser não apenas o conservador da paz mas também um estadista de mão cheia, ultrapassando todos os seus predecessores e alargandoas fronteiras do Reich. Em menos de um ano, acrescentara 10 milhões de alemães ao Terceiro Reich, quebrara o formidável bastião da expansão alemã para sudeste e tornara-se o maior ditador europeu desde a época de Napoleão.

O início da guerra

Em Março de 1939, Hitler renunciou ao pacto de não-agressão com a Polónia, de 1934 e exigiu a devolução de Danzig e do corredor polaco. O Reino Unido e a França garantiram a independência polaca e avisaram Hitler de que estavam dispostos a lutar pela Polónia. Hitler ficou algo abalado com este procedimento, em particular quando as duas potências ocidentais entraram em negociações com Moscovo. Contudo, em vez de abandonar os seus desígnios, preferiu esquecer momentaneamente o seu ódio pelo comunismo e propor um pacto de não-agressão à URSS. Estaline concordou e o pacto Molotov-Ribbentrop foi assinado a 23 de Agosto de 1939. Afastado o perigo da interferência soviética, Hitler lançou o seu Blitzkrieg sobre a Polónia a 1 de Setembro de 1939 e, dois dias mais tarde, o Reino Unido e a França declararam guerra.

Blitzkrieg

Depois da invasão da Polónia, a Alemanha avançou rapidamente sobre a Holanda, a Bélgica e a França, tendo lançado, ao mesmo tempo, invasões sobre a Noruega e a Dinamarca. Os espectaculares acontecimentos da Primavera e Verão de 1940 culminaram no armistício com a França, o que apenas confirmou o génio de Hitler aos olhos do alemão médio. Na Primavera de 1941, as forças alemãs invadiram a Jugoslávia e a Grécia, enquanto a força aérea atacava o Reino Unido com os seus bombardeiros e a marinha os barcos que transportavam as provisões.

Batalha do Reino Unido e plano Barba Ruiva

Hitler decidiu atingir os britânicos atacando o império a oriente. No entanto, este plano dependia da neutralidade da URSS e, não estando absolutamente certo deste facto, Hitler e os seus conselheiros decidiram fazer coincidir um ataque ao Egipto com a invasão da própria URSS - a operação Barba Ruiva, de Junho de 1941. Esta foi uma decisão fatal que fez entrar em cena um inimigo poderoso e que abriu uma segunda frente, tendo acabado por revelar as fraquezas essenciais subjacentes a toda a Weltpolitik (política) de Hitler. É bem possível que ele tenha tomado esta decisão contra a opinião dos outros líderes nazis e, de um modo geral, contra a opinião do estado-maior alemão. A partir daí esforçou-se por afastar a URSS dos Aliados ocidentais realçando a cruzada antibolchevique da Alemanha.

As campanhas alemãs dos balcãs e do Mediterrâneo foram brilhantes em termos de planeamento e execução, mas a intervenção britânica na Grécia e a resistência britânica em Creta e na Líbia atrasaram o planeamento de Hitler em termos de tempo e, à medida que o Verão de 1941 chegava ao fim, tornava-se óbvio que o optimismo alemão tinha sido excessivo. Os revezes na batalha de Inglaterra (Julho de 1941) constituíram um terrível golpe para o moral alemão e, durante algum tempo, Hitler permaneceu silencioso; no entanto, numa reunião, a 4 de Outubro, anunciou uma operação gigantesca que provocaria a derrota da URSS. Depois do esmagamento do exército alemão mesmo antes de chegar a Moscovo, Hitler despediu o comandante-chefe, Brauchitsch, em Dezembro de 1941, e assumiu pessoalmente o controlo de todas as operações militares. Quando os Estados Unidos entraram na guerra, após o ataque a Pearl Harbor (Dezembro de 1941), quatro quintos do mundo passaram a estar em luta contra a Alemanha.

O declínio 1942-1943

A mensagem do Ano Novo de 1942, de Hitler, assinalou um declínio na grandeza das suas afirmações, apesar de os exércitos alemães continuarem a constituir uma força poderosa. Com efeito, no início de 1942, os exércitos alemães posicionados na USSR chegaram ao Volga, em Estalinegrado, enquanto Rommel ameaçava o Cairo e Alexandria, no norte de África. No entanto, antes do Outono chegar ao fim, Rommel tinha sido derrotado em El Alamein e os soviéticos haviam destroçado o 6º exército de von Paulus frente a Estalinegrado. Hitler começou a falar cada vez menos da vitória alemã e mais da incapacidade dos Aliados em derrotarem a Alemanha e não tardou que surgissem novas crises. Mussolini foi deposto em Julho de 1943 e a Itália capitulou perante os Aliados.

1944

Depois de os exércitos alemães terem sido expulsos da USSR e após o Dia D, em Junho de 1944, dia em que ocorreu a chegada das forças aliadas à Normandia, tornou-se óbvio que ao contrário do que Hitler previra os Aliados não seriam empurrados de volta ao mar. A oposição alemã, liderada por generais, industriais, liberais e até elementos de esquerda, tentou um golpe de estado, a conspiração da bomba de Julho. O sinal de partida deveria ser o assassinato de Hitler, mas a bomba que foi colocada no quartel-general por um oficial da sua guarda, de nome von Stauffenberg, não o matou e o golpe falhou. A única coisa em que este golpe foi bem sucedido foi em ter feito com que Hitler embarcasse numa das mais sangrentas purgações de sempre: milhares de homens e mulheres passíveis de liderar um outro golpe foram executados (a maior parte dos quais sem nada ter a ver com a conspiração) para evitar que, no futuro, se envolvessem num outro levantamento. Himmler tomou a seu cargo o comando do exército na Alemanha, de modo a reforçar ainda mais o controlo nazi sobre ele. Contudo, à medida que o ano decorria, os Aliados iam avançando.

1945, a derrota

Ao mesmo tempo que os Aliados se lançavam sobre a Alemanha, em Abril de 1945, Hitler casava com a sua amante, Eva Braun, a 29 de Abril de 1945, e no dia seguinte ambos cometiam suicídio, no abrigo anti-aéreo por baixo da chancelaria de Berlim. É tido como certo que os corpos foram de seguida queimados no pátio (Fonte: Site Segunda Grande Guerra).




Adolf Hitler [1889-1945]

Os primeiros anos

O pai de Hitler (cujo nome original, até o ter alterado já no final da vida, era Schicklgruber) era um funcionário menor de alfândega ao serviço da Áustria. Hitler foi o único filho da sua terceira mulher.
O pai de Hitler faleceu quando ele tinha 14 anos, não deixando quaisquer recursos que lhe permitissem continuar a estudar. Foi para Viena com a sua mãe, na esperança de poder vir a ser arquitecto, mas vendo-se forçado a trabalhar para ganhar a vida como assistente de pintor e efectuando pequenas vendas. Depois de passar alguns anos em Viena, decidiu instalar-se em Munique (1912). Estes anos de penúria foram fundamentais na formação tanto da sua filosofia de vida quanto da sua personalidade; aliás, foi provavelmente nessa altura que pela primeira vez assimilou as teorias anti-semitas e pan-germânicas típicas dos nacionalistas extremistas da época.

Primeira Grande Guerra

Hitler entrou para um regimento de reserva bávaro no início da Primeira Grande Guerra, servindo nas trincheiras como mensageiro. Atingiu o posto de Gefreiter (aspirante), foi ferido na batalha do Somme (1916) e gaseado em 1918. Convenceu-se de que a Alemanha tinha sido traída pelas influências judaicas e marxistas e regressou da guerra amargurado com a sua derrota. De regresso à Bavária assistiu, e mais tarde ensinou, a cursos destinados a fazer com que os ex-combatentes se mantivessem afastados do bolchevismo; foi nessa altura que cedeu à influência de Gottfried Feder, o pai intelectual do movimento nazi.

Hitler assume a liderança dos nazis

Seguidamente tornou-se o sétimo membro de um insignificante grupo político de Munique, o Partido dos Trabalhadores Alemães, distinguindo-se muito rapidamente graças à sua quase hipnótica oratória popular. Através dos seus amigos, Erich Röhm, um oficial de Munique, e von Epp, manteve-se em constante contacto com o exército alemão, o Reichswehr. Substituiu o fundador e líder do partido Anton Drexler, em 1921. Nessa altura, já o partido se chamava Partido Operário Nacional-Socialista Alemão e adoptara as máximas nacionalistas e anti-marxistas de Hitler. Depois de uma discussão com Röhm sobre o papel das recém-criadas forças SA (Sturmabteilung) (os camisas castanhas), Hitler organizou um destacamento especial formado pelos seus próprios soldados políticos disciplinados em vez dos arruaceiros de rua sempre envolvidos em zaragatas - os camisas castanhas de Röhm. Estas tropas foram estabelecidas formalmente em 1926 com o nome de SS (Schutzstaffel), à semelhança dos fasci di combattimento de Mussolini.

Prisão e Mein Kampf

Considerando que a república de Weimar estava à beira do colapso, Hitler desencadeou um golpe em Munique, em Novembro de 1923, em associação com Röhm, o herói de guerra Ludendorff e Goering, numa tentativa de impor Ludendorff como ditador. O golpe falhou e Hitler foi preso e julgado por traição. Foi condenado a cinco anos de prisão e durante o tempo em que esteve preso no forte de Landsberg trabalhou com Rudolf Hess na versão definitiva do livro Mein Kampf.

Construindo o partido

Durante o tempo que passou na prisão, o Partido Nazi quase se desintegrou por completo, de modo que assim que foi libertado, em 1924, graças a uma amnistia, dedicou-se de imediato à reconstrução da organização do partido. Apesar de, durante algum tempo, os irmãos Strasser, criadores do Partido Nazi no norte da Alemanha, terem sido mais influentes entre os membros do partido que Hitler, ele foi recuperando gradualmente o tempo perdido e acabou por conseguir afastar totalmente os Strasser. Em 1930 era já o líder incontestado de um partido que contava com um número considerável de membros. Os fundos doados pelos grandes industriais, que viam o nacional-socialismo como a única forma de se salvaguardarem contra o comunismo, eram cada vez mais significativos. O Nacionalismo acabou por suplantar o Socialismo em termos do programa do partido, apesar de determinados chavões revolucionários continuarem a ser utilizados.

Quando a crise económica de 1930 fez a sua aparição, Hitler explorou sabiamente o descontentamento das classes trabalhadoras e dos elementos mais sólidos das classes médias, que viam o seu nível de vida ameaçado pela crise. A sua retórica converteu muitas pessoas e, nas eleições seguintes, em Setembro de 1930, os nazis aumentaram a sua representação no Reichstag, o parlamento alemão, de 12 para 107 representantes. Hitler apresentou-se contra Hindenburg nas eleições presidenciais de 1932 e, embora tenha sido vencido na segunda volta, conseguira granjear 13 milhões de votos e tornara-se uma força política de peso. Perante uma situação política que se deteriorava rapidamente, o chanceler Brüning sentiu-se obrigado a governar por lei e, apesar de ser aparentemente um liberal, o seu regime criou as condições que conduziriam à ditadura. Em Junho de 1932 demitiu-se do cargo de chanceler, tendo-lhe sucedido Papen. Hitler via-se a si próprio como o herdeiro ideal para o cargo de chanceler, mas não tinha contado com a oposição do velho regime de direita, que contava com o apoio dos industriais e dos junkers (proprietários rurais pertencentes à aristocracia). Von Papen dissolveu o Reichstag e convocou novas eleições, mas o Partido Nazi dobrou o seu número de representantes para 230 e Hitler viu-se finalmente na posição de líder do maior partido alemão. Por fim, Hitler e von Papen chegaram a um acordo: Hitler renunciaria à secção socialista do seu programa partidário e von Papen libertaria os subsídios dos industriais directamente para os cofres de Hitler e convenceria Hindenburg a aceitá-lo como chanceler (Janeiro de 1933).

O Terceiro Reich

Em 1933, a república de Weimar deu lugar ao Terceiro Reich e, no final do mesmo ano, o sistema de partido único havia-se tornado a forma de governo oficial. Os opositores políticos desapareceram, quer assassinados quer enviados para campos de concentração. Tendo, de um modo geral, eliminado a oposição por toda a Alemanha, Hitler concentrou a sua atenção nos últimos redutos de dissensão dentro do seu próprio partido. Durante a Noite dos Facas Longas, a 30 de Junho de 1934, mais de 100 figuras nazis importantes foram assassinadas, entre os quais Gregor Strasser, Röhm, Kurt von Schleicher e a sua mulher. Todo o poder passava agora pelo executivo nacional-socialista, o que, na prática, significava através do próprio Hitler. Quando em Agosto de 1934 Hindenburg morreu, Hitler foi declarado o seu sucessor, declinando o título de Reichspräsident (Presidente do Reich) a favor dos de Fuhrer (líder) e Kanzler (chanceler).

O Holocausto

A partir do momento em que Hitler chegou ao poder, instituiu um reinado de terror contra judeus, homossexuais, ciganos e oponentes políticos. As medidas anti-semitas foram introduzidas aos poucos, começando com os boicotes aos negócios judeus em Abril de 1933 e culminando nos horrores dos campos de extermínio e na Solução Final (1941). A propaganda oficial era dirigida contra os judeus, alimentando os antigos ódios populares, como na noite de terror organizado da Kristallnacht (Noite de cristal) , durante a qual as lojas e propriedades judaicas foram atacadas e destruídas por populares a soldo do governo (9/10 de Novembro de 1938). Os judeus eram cada vez mais marginalizados, graças a uma combinação de propaganda pejorativa e de leis antijudaicas, tal como a que obrigava todos os judeus a usar uma estrela amarela na roupa, o que os tornava alvos visíveis tanto para a repressão oficial quanto para a hostilidade privada. Assim que a Segunda Grande Guerra começou, estas políticas foram transpostas para os países ocupados pela Alemanha e, por volta de 1941, já existia uma rede de campos de extermínio, em particular na Polónia. O Holocausto alcançou o seu ponto mais alto após a conferência de Wannsee, a 20 de Janeiro de 1942, um encontro durante o qual os mais elevados oficiais nazis desenvolveram uma política sistemática de extermínio eficiente. Não existem estatísticas precisas para o número de vítimas dos nazis, mas crê-se que por volta do final da guerra cerca de 6 milhões de judeus e perto de um milhão de pessoas de outros grupos, tais como eslavos e ciganos, designados como Unsermensch (sub-humanos), já tinham perecido.

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Calendário de testes:

9º 1 - 13 de Maio de 2009

9º 2 - 13 de Maio de 2009

10º 2 - 13 de Maio de 2009

Visitas de estudo:

10º 2 - 26 de Maio de 2009 (Belém)